Desempregado, liso e lascado, Considerado resolveu surpreender dona Nildinha. O sujeito acordou às 5 horas da manhã deste sábado, 16 de fevereiro, e passou a fazer faxina na casa da avó. Não por acaso, claro. Soube que a velha vendeu umas ações que tinha do Banco do Brasil, faturou uns R$ 35 mil e o cara ficou de olho.
Pegou vassoura, balde, rodo e pano de chão e começou a jogar a água dentro da casa. A movimentação jamais vista fez a velha saltar da cama para saber o que estava acontecendo.
-Meu Deus, trouxeram um lava jato para dentro casa? Diante da pergunta dela, ele tentou disfarçar a situação: – Calma vó, eu vi que a casa estava precisando de uma limpeza geral e resolvi lhe ajudar. -Disse certo de que estava com o controle da situação. Ledo engano. Dona Nildinha partiu para cima dele, tomou a vassoura e o balde e mandou parar. Deixou claro que tinha contratado uma faxineira na semana que passou exatamente para fazer esse serviço. Depois arrematou: – Além disso, quando a esmola é demais o santo desconfia.
Não foi preciso ela investigar para saber que o neto queria mesmo era o dinheiro das farras de fins de semana. Prometeu ajudar. Disse-lhe, no entanto, que estava na hora de ele arranjar um emprego e se virar até para ajudar pagar as contas.
-Veja se arranja um emprego com aqueles seus amigos daquele tal de grupo do Gabi.
-Ali está difícil demais, vó.
-Por quê?
-O grupo está implodindo. É uma briga atrás da outra.
-Já sei. O Batoré brigou com quem desta vez?
-O Babá tá tranquilo é outro homem. Formou-se em direito…
-Siga o exemplo.
-O que está havendo lá é briga de elite.
-Como assim, o meu Dr. do dedão está brigando com quem?
-Não, o Coleguinha só implica com o Pequeno Pônei. A briga lá é do pastor com o juiz
-Meu Deus, que coisa feia.
-É mas vamos deixar isso para lá.
Nildinha parou e ficou a olhar para o neto. Em seguida chamou-lhe atenção. Orientou-o a sair desse grupo, considerando que a intolerância que alimenta cabeças no País pode causar danos a amizades consolidadas. Fez-lhe ver que precisava estudar, arranjar o que fazer e não ficar na vadiagem. -Considerado, meu filho, olha o Batoré, já é advogado. – Lembrou. Ele olhou com a cara feia para avó e disparou: – Não senhora, por enquanto o Babá é (deu uma gaguejada) babacharel.
A avó paciente fez ver também que isso não importava, que o fundamental era que ele tinha estudado e que amanhã poderá ser juiz, delegado ou promotor. Ou até um funcionário destacado da Assembleia Legislativa ou da Câmara Municipal de Maceió.
-Vó, quer saber, era melhor a gente ter continuado a falar da briga.
-E por quê?
-Por que tudo começou quando o Pastor revelou que o Belleboi, irmão do Coleguinha, já teve um caso com a ministra num pé de laranja.
-Eitaa… Logo com aquela doida?
-É. Mas, o juiz não gostou e acabaram discutindo feio.
-Esses homens têm um mau gosto.
-Como é a história vó?
-Como é que o cara se passa pra namorar uma desmiolada daquela…
-Olha quem fala. A senhora vive sonhando com o dedo do Coleguinha e arrasta a asa para o Zé Fumacê, o representante do puteiro do Carvão.
-O Zé foi um caso que eu tive, após uma bebedeira. Já o meu doutor está pra ser.
-A senhora é pior que a ministra…
-Pior mesmo é a tua mãe, que te colocou aqui dentro, vive só, não tem um namorado, mora no Pinheiro e não protesta contra as antas que prejudicaram o bairro.