28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Alagoas

Fechamento de escolas: A arte imitando a vida ou a vida imitando a arte

Vi, neste sábado, a luta e a resistência de alunos liderados pela ‘professora Camila’ (personagem de Jéssica Ellen, na novela Amor de Mãe – TV Globo), pela manutenção da escola do bairro, fechada devido à atuação (e pressão) de uma empresa poderosa. Lembrei da situação de algumas escolas em Maceió, que estão sendo fechadas por motivos bem parecidos.

Na ficção, o empresário ganancioso, cuja empresa tem causado sérios danos ambientais à comunidade, quer ampliar seu espaço de atuação a qualquer custo, inclusive forçando o fechamento da escola e pequenos estabelecimentos comerciais, para atender aos seus interesses econômicos, que não levam em conta o bem estar da comunidade.

Na nossa realidade, escolas tradicionais de forte identidade com as comunidades onde estão instaladas há décadas, e onde, durante longa existência, foram referência em qualidade de ensino, a exemplo da Escola Estadual Nossa Senhora do Bom Conselho, no bairro de Bebedouro, tiveram que ser fechadas e realocadas. E nesses casos, o fechamento não é o princípio para a expansão econômica de um grande grupo industrial, mas o fim; a consequência de décadas seguidas de exploração do solo na extração mineral do sal gema, aliada, claro, a outros fatores como a própria formação geológica e a negligência do poder público.

Isso mesmo: negligência. A Braskem, cuja atividade é apontada como a grande responsável nessa história triste que afeta as comunidades nos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Pinheiro, não deve ficar sozinha como a “Geni” da história. O poder público estadual e municipal, que autorizou a exploração do solo, tinha no mínimo a obrigação de monitorar as consequências e agir antes que se transformasse nessa catástrofe. Não agiu! Como não fez, também, ao longo dos anos, o seu dever de casa no que diz respeito aos investimentos básicos em saneamento e drenagem do solo – nem nessas  áreas e nem na maior parte do município e do Estado. No mínimo, seria responsabilidade compartilhada. Mas isso dá outra história.

Em Bebedouro, alunos, ex-alunos e professores nas ruas, contra o fim da escola

Voltando à situação das escolas, o Bom Conselho – aqui citado como exemplo, por sua história centenária (142 anos) de acolhimento de alunos, não só da comunidade de Bebedouro e adjacências, mas de todos os bairros de Maceió e até do interior do Estado, desde os tempos de asilo de órfãs da II Guerra Mundial até os dias recentes, como escola estadual – vai deixar de existir. Seu nome será dado a uma nova escola no interior do Estado.

E não está sozinho nesse triste fim. Esta semana, também foi informado mesmo destino para o Colégio Correia Titara, um dos mais antigos da rede estadual, com cerca de 150 anos de história, os últimos 60 instalado no Cepa. Vai fechar. Seu nome será igualmente transferido para uma escola no interior do Estado, e sua história… Em breve será apenas uma remota lembrança na memória e no coração de alguns.

Tem mais: No Cepa, por causa de riscos representados em rachaduras no prédio, também será realocada a escola Vitorino Rocha. No bairro de Bebedouro pelos mesmos motivos, as escolas Rosalvo Ribeiro e a Alberto Torres, ambas estaduais, também estão sendo evacuadas. Alunos e profissionais de educação e toda a estrutura dessas unidades estão sendo acomodados em outros prédios, fora dessas comunidades, a princípio, com as devidas condições de transporte, para continuar frequentando a sua escola, e com a esperança de que um dia elas voltem a integrar a comunidade. Mas tá difícil.

A necessidade de evacuação dos prédios é compreensível, devido à situação de risco apontada em laudos técnicos da Defesa Civil. Já houve manifestações diversas, de alunos educadores e servidores dessas escolas – inclusive eu participei de algumas, como ex-aluna do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho. O prédio centenário onde ela funcionava está fechado desde abril do ano passado, quando a escola passou a funcionar, emergencialmente, no CEPA – bairro do Farol. Isso, a comunidade e todos nós compreendemos.

Mas, tudo indica que a saída dessas escolas dessas comunidades é um caminho sem volta e o que se pede, nessas manifestações, é exatamente que se evite essa ruptura; que o elo não se quebre; que essas escolas mantenham sua história e sua ligação com as respectivas comunidades. Já houve sugestões para locação de prédios nas imediações (fora da área de risco), mas por algum motivo, o governo não considerou. O que se espalha, com base em informações do próprio governo, é que escolas tradicionais, cheias de histórias, vão mesmo deixar de existir.

O Bom Conselho, deverá dar nome a uma nova escola no município de Rio Largo. Tem lógica?!

Por que não em Maceió?! Por que não atender à expectativa dos moradores e da comunidade escolar, de manter a identidade dessas escolas com os respectivos bairros, alocando prédios nas imediações, para o seu funcionamento? Isso já foi perguntado (inclusive por nós) à Secretaria de Estado da Educação, e a resposta aponta para o mesmo caminho, que leva o nome dessas escolas para outros prédios, em outros municípios, embora, respondendo a consulta nossa, a Assessoria de Comunicação da Seduc tenha informado que “ainda não foi cravada oficialmente essa decisão”. Explicou também que “se isto acontecer, os estudantes não irão para outros municípios; serão realocados em escolas próximas, na capital”. E por fim, arrefeceu o desconforto dessa situação explicando que “quando se fecha uma escola, o nome deve ser dado a uma nova unidade, para que não se perca a história. Portanto, escolas que estão sendo construídas em outros municípios, deverão receber o nome dessas que estão sendo fechadas”.

Ou seja. Em breve, a existência dessas escolas antigas será apenas uma fachada em um lugar longínquo e uma lembrança de quem viveu a sua história.

Nada mais que isso.

 

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