19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Nasa: Incêndio na Amazônia têm assinatura do desmatamento

Cenário semelhante foi visto de 2002 a 2004, quando desmate era superior a 20 mil km quadrados por ano

A Nasa finalmente está estudando o brasileiro. Ao menos, o seu território, mais especificamente a Amazônia brasileira, que está em chamas. Pesquisadores da Agência Especial Americana, que monitoram focos de queimada no planeta afirmam que seus dados sobre o Brasil estão consistentes com o aumento abrupto que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais) vem reportando nas últimas semanas.

Segundo Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Maryland, há  sinais de que o desmatamento está aumentando.

Além disso, é possível correlacionar os principais focos de calor detectados pelos satélites Terra e Aqua da Nasa ao corte raso de floresta na região, e não a outros tipos de atividade que implicam queimadas sem desmatamento, como limpeza de pastos, preparo de plantios ou queima de bagaços.

“Dez dias atrás, olhei as imagens dos nosso sensores dos satélites em órbita e eles mostravam claramente os focos de calor separados, com colunas de fumaça enormes saindo daquelas áreas da fronteira agrícola, como Novo Progresso, a região da Terra do Meio, no Pará, e o sudeste do estado do Amazonas. Não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumaça se aquilo for somente limpeza de pasto”. Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas de Voo Espacial da Nasa.

Diante desta declaração, já é possível concluir que, ao contrário do que afirma (sem provas) o presidente Jair Bolsonaro, as ONGs não são responsáveis pelas queimadas.

Segundo o pesquisador, o padrão de nuvens visto na região está associado a fogo ou atividade vulcânica. Morton afirma que na última vez que um cenário assim foi capturado por satélites da Nasa sobre a Amazônia foi nos anos de 2002 a 2004, quando o desmatamento anual estava acima dos 20 mil km² por ano.

Defesa do Inpe

No ano de 2010, quando uma grande seca se abateu sobre a Amazônia, os dados de queimadas registrarem um viés de alta, o que coincide com os dados do Programa Queimadas do Inpe.

“Os dados de focos de queima de vegetação que usamos na geração dos nossos dados são em princípio exatamente os mesmos que a Nasa usa no monitoramento que fazem para todo planeta. Os valores finais do Inpe são um pouquinho inferiores, pois retiramos o sinal de fontes industriais, como siderúrgicas.” Alberto Setzer, coordenador do projeto.

Segundo ele, o fato de a Nasa afirmar que Mato Grosso e Pará estão abaixo da média para queimadas também não conflita com os dados do Inpe, já que apesar do Mato Grosso ser o estado com mais focos neste ano; em termos de aumento porcentual, o Pará está muito mais alto.

Em uma nota técnica assinada por quatro cientistas, a ONG Ipam (Instituto de Pesaquisa Ambiental da Amazônia) dá seu parecer sobre os números: os cientistas dizem ver na presença do fogo sinal claro. “As chamas costumam seguir o rastro do desmatamento: quanto mais derrubada, maior o número de focos de calor.”

Segundo o Ipam, não se pode dizer que o Inpe esteja superestimando os dados. No caso do Acre, estado que tem sofrido muito com a qualidade do ar em função das queimadas, o cenário pode estar sento até subestimado.

“Uma análise realizada a partir dos alertas de incêndios utilizando multissensores (imagens de satélite Sentinel, Landsat e CBERS) já soma mais de 19 mil hectares em cicatrizes de queimadas no estado.” Cientistas do Ipam.