Dia de sol em Maceió, a orla marítima tem um cenário de encher os olhos de gregos, troianos, judeus e fariseus e, claro, alagoanos e visitantes de toda a parte dessa terra já não tanto abençoada por Deus.
Mas, foi neste dia de sol que Dona Nildinha colocou a malha de ginástica e se apresentou na sala para a caminhada matinal na orla Pajuçara-Ponta Verde. De imediato, Considerado, se propôs a acompanhá-la, no que ela concordou no ato. Afinal, a companhia do neto é motivadora para o propósito da prática esportiva.
E não é que seja ele um adepto da prática fitness. Mas, exatamente por isso, Nildinha se animou com o propósito do rapaz de segui-la na caminhada. Quem sabe, assim, ele deixa de lado a vida sedentária e assume uma postura mais voltada para a valorização da vida saudável.
Assim, paramentados com malhas esportivas, puseram-se a caminhar pelas calçadas da orla. A avó muito mais preparada que o neto. Ela de passadas firmes e rápidas e ele seguindo ofegante.
-Anda Considerado; você está muito devagar, rapaz. -Provoca Nildinha, sorridente e zombando da falta de hábito do neto com a pratica esportiva. Nessa seara, o esporte preferido dele é “altero-copismo”. Ora no Bar do Lula Manguito, ora no Bar do Gabi, ou mesmo no Grutinha.
O fato é que seguiam, juntos e felizes, na caminhada. Por um momento, Nildinha baixa a cabeça e apressa o ritmo na calçada congestionada de turistas. Até que, de repente, ela esbarra em uma senhora loira, forte, que estava em um grupo de turistas do sul, que pretendiam fazer o passeio de jangada até as piscinas naturais do mar de Pajuçara.
O choque fez com que a bolsa da mulher caísse no chão. Assustada e já pedindo desculpas, a avó do Considerado tentou apanhar a bolsa, mas praticamente foi empurrada pela mulher e a turma dela. Não adiantou Nildinha pedir desculpas. A turma loiríssima não aceitou.
-Ora que coisa, a gente vem para o Nordeste e é tratado desse jeito. – Reagiu a turista
-Minha senhora mil desculpas… -Tentou Nildinha.
-Não tem negócio desculpas, não. É muita ousadia querer pegar minha bolsa…
-Olha, minha senhora, eu me desculpei e estava tentando ajudar.
-Quem sabe se estava mesmo?
-A senhora está imaginando o quê?
-Não sei de nada e não quero conversa!
-Ainda bem. Vou-me embora para evitar o desrespeito de quem não conheço.
-Pode ir, pois quem está com medo aqui somos nós.
Foi aí que o diálogo áspero chamou a atenção do Considerado que tratou de reagir:
-Alto lá pessoal, vamos com calma.
-Ninguém falou com você.
-Mas falaram rudemente com a minha avó. E mexeu com ela, mexe comigo.
-Se está querendo nos amedrontar, nós aqui vamos chamar a polícia.
-Só vou lhe dizer uma coisa, senhora do sul: não é de nós que você deve ter medo.
-E é de quem, da polícia?
-Não. É do sol, que a essa hora, aqui em nossa terra, costuma queimar e muito pele branquela como a sua. Inté!