Por Osvaldo Pife
Isso. Mentimos quando dizemos modernos, atuais e contemporâneos. Fosse essa uma verdade, não precisaríamos da memória. Ser um ser de agora, ou pior, do futuro, é abandonar o mundo que nos criou e nos tornou o que somos hoje.
Aliás, não existe o hoje, a não ser um encontro das águas de um rio de afluente eterno que deságua em outros rios ainda mais severos, sujeito à correnteza conhecidamente perigosa, no mesmo leito.
O mais de tudo é que o tempo, tal nome dado, é um um andar espinhoso de luta e de procura, não se sabe pelo quê, perversamente.
O que se diz sobre o provável tempo não é a passagem dos dias, nem muito menos o sinal da pele envelhecida. Isso não é o tempo. Isso é a nossa incompetência em não percebermos que apenas definhamos, simplesmente, como cálculo do projeto da mão pesada da natureza.
Quem inventou o tempo, ou essa nomenclatura, quis sair ou ser dono da natureza. Fugir dela para inventar as horas e, assim, obrigar o galo a cantar nas manhãs; dominá-la para separá-la do ritmo sagrado da vida: o início posto indolente de um Sol acanhado e o fim impiedoso do dia que anuncia a escuridão, não as trevas, necessariamente.
Nós criamos o tempo para habitarmos outro planeta, mesmo.