O cenário não é incomum e todos já devem ter percebido: em filas no supermercado, no transporte público, nas salas de espera de consultório ou até mesmo dentro do cinema, sempre tem alguém que faz questão não só de usar o celular, mas também de compartilhar sua experiência com as pessoas ao redor.
O uso do aparelho telefônico não é nenhum problema: cada um faz com ele o que quiser. E em nosso imediatismo, é ideal para suportar momentos tediosos do dia a dia, mas tudo desanda quando a liberdade de um incomoda a liberdade do outro. Ninguém vai se incomodar se você estiver lendo algo em seu aparelho, isolado em seu mudinho. Mas há limites…
Para que, na rua, assistir o vídeo de uma criança chorando com áudio no máximo? Ou escutar uma mensagem de áudio com o celular virado de lado? Quem te pediu para ouvir essa música evangélica aqui no consultório médico ou funk no ônibus? E aqueles que assistem na íntegra um longo vídeo de política no Whatsapp ou mesmo a porcaria de cenas de um filme ou série na Netflix? Onde estão seus fones de ouvido?
Parece até “incômodo de velho” reclamar, mas em algumas situações beira o insuportável a falta de conhecimento (ignorância, que as vezes deixamos passar) ou mesmo a mais completa falta de consideração que é ter que aturar um estranho, ao seu lado, querendo compartilhar ao seu redor o que está ouvindo.
O vício em celular é um problema moderno e está cada vez mais raro as pessoas largarem o aparelho enquanto se alimentam, assistem televisão, vão no banheiro ou estão na cama, seja para dormir ou acabando de acordar. Só que isso é uma outra questão: este é um problema do indivíduo. O problema aqui é quando levam para fora de casa e querem arrastar outros na situação.
Alguns anos atrás, a visão humana parecia se adequar de forma suficiente ao escuro das salas de cinema, para encontrarmos o lugar após o início da sessão. Agora, não basta chegar atrasado, mas sempre tem um inconsiderado com a iluminação máxima da tela virada para os degraus do corredor ou mesmo com a lanterna ligada, na caça de seu lugar para sentar. Como sociedade, parece que regredimos.
Não fosse a falta de noção, estes e outros ainda acreditam não haver problema em usar o celular durante o filme. Nesta situação falar numa ligação já é hediondo, mas até mesmo usar o aparelho na “iluminação mais baixa” é o suficiente para incomodar. Quando se está na imersão da escuridão da sala de cinema, qualquer luz de uma aparelho idiota será mais do que notada.
O despreprado social que não vê problemas em usar o Instagram durante um filme precisa sumir, para sempre, das salas de cinema. Da mesma forma aqueles que tiram fotos da tela ou selfies em grupo. E com flash!
Parabéns, vocês são especiais, únicos seres vivos que estão vendo este filme em particular e totalmente merecedores de compartilhar este momento. Que tal agora sumir da sala de cinema? Ou deixar o celular desligado?
A cereja do bolo é a nova solução dos pais para acalmarem seus filhos em público: entregar o celular ou tablet para que eles assistam vídeos no YouTube ou joguem alguma coisa para se distraírem. Claro, sem fone de ouvido. Ótimo: todos ao seu redor agora vão ouvir Galinha Pintadinha ou Baby Shark.
E não são só as crianças que jogam com áudio ligado: adultos também fazem questão de propagar barulhinhos de moeda ou todas aquelas congratulações de Candy Crush e afins no volume máximo. Mesmo quem não está jogando está fadado a ouvir aquela musiquinha eletrônica em loop. De novo: onde estão seus fones de ouvido? Sem fone na rua, sem áudio!
Estamos cada vez mais dependentes de dispositivos eletrônicos e tudo precisa ser feito “agora”. Já se tornou insuportável para muitos uma fila de 2 minutos em um banco sem usar um celular para se distrair. Até aí, não há nada de errado. Se informe, leia alguma coisa. Mas se seu volume estiver ligado e quiser jogar, assistir ou ouvir alguma coisa, coloque um fone. Ou saia de perto dos outros.
E nunca, nunca use seu celular na sala de cinema. Vai que essa regressão cesse, o individuo colabore e como sociedade voltemos a usar direito os celulares.