A viagem dos sonhos se transformou no pesadelo das incertezas, do constrangimento e do desespero. Cerca de 1.800 brasileiros, entre eles seis alagoanos que embarcaram no navio MS Sovereign, operado pela Pullmantur , para um cruzeiro na Europa, no dia 4 de março, estão há mais de 3 dias em Lisboa, reféns da própria sorte, sem saber o que fazer para voltar para o Brasil. Com o cancelamento de voos, frente à pandemia do coronavírus, poucos conseguiram embarcar. Entre eles o alagoano Marcelo Avelino, que chegou a Maceió na madrugada desta quarta-feira (18) e faz um apelo à autoridades brasileiras e alagoanas:
“É preciso fazer alguma coisa por essas pessoas. Eles estão à deriva, largados no aeroporto, sem hospedagem e sem apoio, nem da Embaixada brasileira. Muitos já gastaram todo o dinheiro comprando novas passagens, tentando voltar para casa e os voos foram cancelados. A situação é de desespero”, relata ele.
Marcelo conta que conseguiu embarcar de volta para o Brasil porque sua passagem estava marcada para ontem (17). Mas a maioria, cujo retorno estava marcado a partir da madrugada desta quarta-feira, foi surpreendida com o cancelamento dos voos, e essas pessoas, entre elas idosos e crianças, estão entregues à própria sorte, muitos até sem ter onde dormir. Eles chegaram em Lisboa no dia 15, data de encerramento do cruzeiro, e quem tinha hotel reservado conseguiu se hospedar, mas ao fazer chekc-out, ontem, achando que ia embarcar, perdeu a vaga e não está conseguindo mais hospedagem.
No aeroporto a situação é caótica. Eles passaram a madrugada e o dia de hoje aglomerados numa enorme fila, clamando por uma solução ou por alguma informação que lhes dê alguma perspectiva em relação ao fim desse drama. Em vídeos enviados para familiares no Brasil e para participantes do cruzeiro que conseguiram voltar, eles pedem ajuda e dizem que tentaram inclusive buscar apoio da Embaixada brasileira em Lisboa, mas sequer foram atendidos.
É possível ouvir vozes de choro e desespero e ver pessoas idosas relatando que não têm onde dormir. Parte dos brasileiros havia planejado ficar mais dias na Europa, mas diante da situação de pandemia, tentam antecipar a volta e até pagaram caro por uma nova passagem. Missão impossível. Os voos foram cancelados.
O casal Dilza Cristina e Marcelo Carvalho relatam o pesadelo em que se tornou a viagem dos sonhos. Eles dizem que ontem enfrentaram uma fila quilométrica para tentar antecipar a volta, mas foram informados que teriam que pagar uma diferença de 336 Euros (cerca de R$1.800) por pessoa. Em poucas horas, esse valor subiu para 1.116 Euros e logo depois já eram 2 mil Euros. Mesmo assim, no desespero, compraram a passagem, mas aí o voo foi cancelado. “Estamos reféns dessa situação”, desabafam eles.
A VIAGEM
O navio da Pullmantur partiu de Recife no último dia 4 – antes da situação de pandemia do coronavírus – com 2.600 pessoas a bordo, no cruzeiro vendido pela CVC, e segundo o alagoano Marcelo Avelino, os problemas começaram ainda no navio. Após 4 dias de navegação, eles foram impedidos de atracar em Mindelo (Cabo Verde), que seria a primeira escala da viagem. A causa: a pandemia do Covid-19. O navio seguiu direto para a Espanha, onde ancorou por um dia na Ilha de Tenerife. Próxima parada, seria Lisboa, o fim da viagem marítima, porém, mais uma vez a pandemia do coronavírus obrigou à mudança de rota: a entrada do navio no porto de Lisboa não foi autorizada.
A embarcação teve que retornar para a Espanha e ancorar no porto de Cádiz, de onde os 2.600 passageiros tiveram que seguir por terra, de ônibus, até o aeroporto de Lisboa, numa operação que foi considerada pelo governo português como uma quebra de regras, já que não havia sido permitida a entrada pelo mar e eles entraram por terra. (Veja vídeo).
“Foi uma verdadeira operação de guerra. Chegamos em Cádiz por volta das 11h da noite, enfrentamos cerca de três horas ao relento, com muito frio – crianças e pessoas idosas – saímos por volta das 2h da manhã num comboio de 50 ônibus fretados pela CVC para uma viagem de 6 horas com destino a Lisboa. Passamos constrangimento, dificuldades, riscos, inclusive pela manobra que foi feita. Todos os ônibus foram retidos por mais de uma hora na fronteira com Portugal, e nenhum passageiro foi autorizado a descer. Depois que eles liberaram a entrada, fomos largados no aeroporto, entregues à nossa própria sorte. Foi uma confusão, um transtorno. Imagine a chegada de 2.600 pessoas de uma vez, no aeroporto, cada um tentando resolver sua volta pra casa”, observou Marcelo.
Já em casa, ele diz que a situação de todos os que ficaram é de desespero e pede às autoridades alagoanas e brasileiras para se mobilizarem e tentarem trazer os passageiros do Cruzeiro até seus respectivos destinos no Brasil.
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