1 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
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Barrados: Por que o Papa não quer políticos e militares no sínodo?

No evento focado na Amazônia, o pontífice só quer dar ouvidos à comunidade científica e aos ambientalistas.

Em outubro, a Amazônia vai ser a temática do sínodo. Não, não é coisa de comer. Sínocdo é uma assembleia que reúne bispos do mundo inteiro, sob o comando do chefe maior da Igreja, para discutir temas universais. E tem coisa mais universal que o pulmão do mundo? Tem não.

Então, o Papa Francisco está convocando todos os bispos para essa reunião lá no Vaticano, de 6 a 27 de outubro próximo, para discutir exatamente o tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e uma ecologia universal”.

Durante entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o cardeal brasileiro D. Cláudio Hummes, que vai ser o relator do sínodo, deu o recado de Francisco: “Não virão políticos com mandato, nem militares. Não participarão”. Ui!

Não é a primeira vez que o Papa Francisco manifesta, de forma clara e contundente, um posicionamento da sua Igreja. Durante o evento, o Papa só quer ouvir mesmo é a comunidade científica e os ambientalistas. De acordo com o Estadão, um dos nomes brasileiros na lista de convidados é o do climatologista Carlos Nobre.

Ecologia e Espiritualidade

Em 2015, durante a 7ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, esta blogueira teve a oportunidade de entrevistar (para a Ascom do evento) o  filósofo, teólogo e escritor Leonardo Boff (expulso da Igreja nos anos 90, por desagradar o Vaticano com sua Teologia da Libertação). Naquela Bienal, Boff lançava “Ecologia, Ciência e Espiritualidade”.

Quando questionamos o que ele achava das cobranças do Papa Francisco aos governos, em relação às questões ambientais mundiais, o teólogo não poupou elogios e citou uma encíclica do papa que trata do cuidado com a mãe terra como um dos maiores documentos da história do papado.

“É um verdadeiro Manual de Ecologia. Não é uma encíclica verde, porque o verde se restringiria só ao meio ambiente. É uma ecologia integral, que toma o meio ambiente, toma a ecologia mental e social – ideias, valores e sonhos que se passam na cabeça humana – e ecologia na dimensão espiritual, aqueles valores que não estão na economia de mercado, que não entram no Produto Interno Bruto (PIB), que são a solidariedade, a compreensão e o amor. Portanto, a encíclica tenta unir os dois pólos: o grito da terra e o grito dos pobres, que, inclusive, é o título de um dos meus livros”, ressaltou Boff.

Foi uma entrevista longa e inesquecível. Tanto que, ao ler a notícia de que o papa havia restringido a lista de convidados e dado prioridade à comunidade científica, voltei as minhas anotações da matéria publicada no site daquela Bienal.

Pensamento avançado

Boff foi muito além, na sua análise do ambientalista Francisco. Disse que ele  representa, hoje, a ponta mais avançada do pensamento ecológico mundial, indo muito mais à frente que qualquer outro ecologista. “Lembro que o próprio Edgar Morin, grande pensador francês, já observou que a encíclica papal, à qual já me referi, é um texto que vai modificar o pensamento ecológico, em nível mundial. O Papa diz que o cerne do problema não é a relação entre desenvolvimento e natureza, mas a relação entre o ser humano e a natureza. O ser humano se coloca fora e acima da natureza, como dono que pode fazer com ela o que quiser. Essa atitude e esse paradigma é que produziram a crise ecológica. Então, por 35 vezes, no documento, o Papa pede  que mudemos de rumo; troquemos o estilo de vida, caso contrário, iremos ao encontro do pior”, afirmou Boff.

Pois é, não é agora, em meio a tanta declaração horripilante da autoridade máxima do Brasil sobre as questões ambientais que o Papa Francisco vai deixar de ter uma postura contundente. Para quem tiver curiosidade de saber de ler a Encíclica Verde do Papa Francisco, basta clicar aqui.