Bebês Reborn: conforto ou fuga emocional? Psicólogo responde

Nem todo alívio é cura — às vezes, é uma forma de não encarar o que machuca
Bebê Reborn | Reprodução/Internet

Bonecas hiper-realistas com aparência, peso e textura de bebês reais têm ganhado espaço entre adultos, principalmente mulheres, em situações de perda gestacional, infertilidade ou solidão. Chamadas de bebês reborn, essas bonecas são tratadas como filhos e, em muitos casos, recebem cuidados que incluem banho, roupas e até certidão de nascimento. Mas, segundo o psicólogo Carlos Henrique, é preciso cuidado: o que parece consolo pode ser uma armadilha emocional.

Estudos em neurociência indicam que o cérebro reage ao reborn como se fosse um bebê de verdade. Regiões ligadas ao afeto, empatia e cuidado são ativadas, provocando respostas emocionais reais. “O corpo, de certa forma, acredita na ilusão”, explica o psicólogo. Por isso, para quem passou por traumas como morte fetal ou aborto espontâneo, o reborn pode funcionar como um substituto simbólico da perda.

No entanto, o uso contínuo do boneco pode levar a efeitos negativos. Quando o reborn passa a ser a principal fonte de regulação emocional, a pessoa pode evitar o enfrentamento do luto, criar rotinas paralelas e se afastar de relações reais. “É uma forma de fuga psíquica. A dor é mascarada, não enfrentada”, alerta Carlos.

O psicólogo Carlos Henrique | Reprodução/Instagram

O uso exagerado também pode gerar dependência. Há casos em que o bem-estar é condicionado à presença da boneca, gerando ansiedade na ausência dela, além de perda de autonomia emocional.

Para o especialista, o reborn pode ser uma ferramenta simbólica de acolhimento em momentos de sofrimento — mas deve ser usada com acompanhamento psicológico. “O que define o limite entre o saudável e o disfuncional é o olhar clínico. O reborn pode ser uma ponte ou uma prisão emocional”, conclui.

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