27 de julho de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Bom é bolsonarista bandido solto? Mendonça negou HC ao patriota morto na papuda

Cleriston Pereira sofria sequelas da Covid e foi atendido por médicos 36 vezes na prisão até morrer

Bolsonaristas lamentaram nesta semana a morte de Cleriston Pereira da Cunha, morto no presídio da Papuda, em Brasília. Ele que participou das manifestações na Praça dos Três Poderes, sofria sequelas da Covid e morreu após ter sido atendido mais de 36 vezes por médicos da penitenciária, desde o início de sua prisão.

O Samu e o Corpo de Bombeiros foram acionados. As equipes chegaram cerca de 18 minutos depois e deram “continuidade ao protocolo de reanimação cardiorrespiratória, sem êxito”. Residente na Colônia Agrícola 26 de Setembro, em Vicente Pires, no Distrito Federal, Cleriston deixa sua mulher e duas filhas.

A ironia trágica do fim da vida de Cleriston é que foi André Mendonça, ministro colocado no STF pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, quem recusou seu Habeas corpus.

Em abril, seu advogado apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido para que ele fosse para casa, pois continuar preso seria “uma sentença de morte”. Mendonça, no entanto, citou

Cunha sofria com sequelas da covid-19 e seu advogado chegou a apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF), em abril, para que ele fosse para casa, pois continuar preso seria “uma sentença de morte”.

Ao negar o pedido, o magistrado bolsonarista citou questões processuais e técnicas, sem mencionar as informações sobre as condições de saúde do preso.

Bolsonarista morto pelo bolsonarismo

O advogado de Cunha, Bruno Azevedo de Souza, chegou a fazer sustentação oral do recebimento da denúncia, citando um “quadro de vasculite de múltiplos vasos” e “miosite secundária à covid-19″. Essa condição mostra que o preso passou a ter danos nos músculos como sequela da doença.

“Ele já sofreu graves danos e grandes sequelas em razão da covid-19. Depende da utilização de bastantes medicamentos, que sequer são oferecidos pelo sistema penitenciário. É de extrema importância informar que a médica responsável pelo acompanhamento solicitou exames necessários para assegurar a saúde do agravante, todavia ele não pode comparecer aos exames devido a prisão preventiva. Essas condições podem acarretar em complicações fatais para o paciente. Nesse sentido, é notório que a segregação prisional pode acarretar uma sentença de morte”. Bruno Azevedo de Souza, advogado de Cleriston.

Em seu discurso, contra o STF e Xandão (ministro Alexandre de Moraes, que encabeça os inquéritos contra Jair e seus seguidores), os bolsonaristas fazem de tudo, menos olhar para o próprio espelho para refletir sobre a culpa que eles têm sobre a morte de Cleriston.

Morto por sequelas da Covid, Cleriston ouvia cegamente um líder inapto, que ria de suicídios durante a pandemia e até mesmo simulou jocosamente falta de ar em uma de suas lives. Sem defender a vacinação, Bolsonaro estimulou a contaminação disseminada no país, com um exército de zumbis seguindo os diálogos antivacina e pró-cloroquina do então presidente.

“Fechados com Bolsonaro”, aparentemente até o caixão, serviram de massa de manobra e foram às ruas pedindo intervenção militar e acreditaram piamente em uma fraude eleitoral que nunca existiu. E estimulados por um criminoso que ficou semanas calados após perder a eleição e até mesmo fugiu do país ao fim do mandato, invadiram o Congresso para fazer um quebra-quebra bolsonarista.

Os ainda seguidores de Bolsonaro lamentaram a morte de Cleriston. O que é óbvio. Foi trágico. Mas não se responsabilizaram. Alguém mandou ele ir protestar no Congresso naquele 8 de janeiro. Alguém mandou ele não se vacinar e não se preocupar com o vírus que o mataria. Alguém mandou para o STF o ministro que negou o habeas corpus para ele.

De repente, defenderam que o bolsonarista bandido bom seria um bolsonarista bandido solto. Ignorando que em apenas 4 anos, entre 2017 e 2021, mais de 112 mil brasileiros morreram atrás das grades. Colocaram Cleriston na conta.

O único alento do bolsonarista morto pelo bolsonarismo (mais um) é que ele foi atendido por médicos 36 vezes em um intervalo de 10 meses. O bolsonarista, na prisão, acabou sendo muito mais bem tratado do que os que estavam do lado de fora. Mas já tinha seu destino traçado. Pelo próprio Bolsonaro.

Em tempo: “Cleriston Pereira da Cunha tentou, com emprego de violência e grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito”, disse o Ministério Público Federal do homem que foi preso logo de cara, pela Polícia do Senado Federal. Na acusação, o MPF pedia sua condenação pelos crimes de:

  • associação criminosa armada;
  • abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • golpe de Estado;
  • dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para às vítimas;
  • deterioração de patrimônio tombado;
  • concurso de pessoas;
  • concurso material.