6 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
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Colecionador mantém memórias artística e histórica de Alagoas vivas

Claudevan Melo orgulha-se de colecionar todos os grandes artistas da Era de Ouro que, segundo ele, vai da metade dos anos 1920 até os 1940s

Claudevan quer trazer sua coleção, que está em São Paulo, para Alagoas | Foto: Wagner Melo

Em 1969, quando deixou Alagoas para ganhar a vida em São Paulo, o metalúrgico aposentado Claudevan Melo, hoje com 68 anos, só conhecia Luiz Gonzaga. Na “cidade grande”, um amigo o apresentou a colecionadores como Antônio Nenê Wanderley Monteiro, e Leon Barg, este proprietário da gravadora Revivendo, que o apresentaram a outros grandes nomes da música brasileira, principalmente, alagoanos.

Ele também conviveu com Roberto Gambardella, dono de uma casa de discos antigos em São Paulo – a Lomuto – que já não existe mais. “Eles iam para conversar [na Lomuto] e eu ficava ali ouvindo, de penetra, sem conhecimento nenhum, mas com muita vontade de conhecer. E eles falando dos compositores alagoanos sem eu nunca ter ouvido. Daí, eu comecei a colecionar e pesquisar”, relata.

Hoje, o acervo de Claudevan Melo conta, no total, com cinco mil discos de cera, mil LPs, aproximadamente 2,5 mil partituras e 500 revistas. Tudo original. Além de fotografias, ele coleciona recortes de revistas e jornais de cada personalidade pesquisada, além de livros de literatura musical e biografias de músicos.

A peça mais rara e valiosa de seu acervo, revela, é uma Revista Illustrada, de 1883. Na capa, o marechal Floriano Peixoto, segundo presidente da República e, na manchete da publicação, uma crítica sobre seu estilo de governar com “mão de ferro”.

Na área musical, ele possui um original de uma das primeiras gravações feitas no Brasil, de 1904. Era um disco de cera, de 78 rotações, intitulado “A Casa Branca da Serra”. “Nessa gravação é musicado um tema de um alagoano, com o nome de Poeta Guimarães Passos [em parceria com Miguel E. Pestana], interpretado por Mário Pinheiro, um tenor”, conta.

Era de Ouro

Claudevan Melo orgulha-se de colecionar todos os grandes artistas da Era de Ouro que, segundo ele, vai da metade dos anos 1920 até os 1940s. “Nós, colecionadores, chamamos de Era de Ouro do cancioneiro brasileiro, porque o estilo de cantar e os acompanhamentos são, totalmente, diferentes de hoje. Aí, se enquadram Francisco Alves, Carmem Miranda, compositores como Ari Barroso, Hekel Tavares…”, diz.

Aliás, foi por meio do alagoano Hekel Tavares que ele ampliou horizontes. “Quando você abre uma linha de pesquisa, você vai vendo os paralelos. Por exemplo, você não pode colecionar Hekel Tavares se você não conhece todos os grandes cantores da Época de Ouro. Por que? Porque quem gravou foram eles, não Hekel Tavares”.

Claudevan Melo possui raridades no seu acervo particular

Por isso, o ele coleciona cantores como Francisco Alves e Gastão Formenti, que gravaram composições de Hekel Tavares. “Então, você vai abrindo um leque. Quando eu digo [que sou] temático é o tema Alagoas, mas, em volta disso, estão todos os grandes cancioneiros do Brasil, porque eles é que gravavam”, destaca.

O conhecimento musical também remete a fatos históricos. “Quem se utilizou de uma obra de Hekel Tavares, chamada Sinfonia Brasília, foi o maestro Eleazar de Carvalho, com a sua orquestra. Ele tocou a Sinfonia Brasília, de Hekel Tavares, no nascimento de Brasília”, relata.

Obras estão conservadas

Acervo está encaixotado na casa de colecionador, em São Paulo

As obras da coleção de Claudevan Melo são originais e estão em boas condições, tanto que ele consegue ouvi-las nos gramofones, grafonolas, e também aparelhos á válvula que tocam esses discos. Na página do Facebook “Memória Musical Alagoana”, ele compartilha vídeos de discos raros tocando.

Montar a coleção exigiu dedicação e disponibilidade financeira para adquirir itens de colecionadores, comprar acervos, ir até outros estados para conseguir material que, algumas vezes era comprado e, noutras, eram cedidos.

No entanto, parte deste acervo está encaixotada e empilhada em prateleiras num galpão de 200m2 na casa dele, no bairro Ipiranga, capital paulista. O sonho do aposentado é levar o acervo referente aos artistas alagoanos para a terra natal. Apenas com este tema, ela coleciona mais de 2 mil discos de cera de 78 rotações e 300 LPs do período entre 1964 e 1985, mais de mil partituras, entre outros itens.

Governador dá esperança de realizar sonho

Em recente visita a Maceió, Claudevan Melo foi recebido em audiência pelo governador Renan Filho (MDB), que fez a promessa de ajudar no projeto, por meio da Secretaria de Cultura. Mesmo com cautela, ele saiu do encontro otimista.

“Todo sonho bom se realiza, sim. Então, nós estamos convencidos de que vamos ter um final a contento. Eu creio que sim, embora, haja esses percalços todos, mas, nós sabemos que temos de romper essa barreira porque, se eu desisto antes, como é que fica, né?”, afirmou.