7 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Cunha foi contra, mas Renan consegue aprovação de CPI da Braskem no Senado

Mineração afetou mais de 14 mil imóveis, já condenados, com casos forçando remoção de cerca de 55 mil pessoas da capital alagoana

O senador Renan Calheiros foi o autor do pedido de instalação da CPI da Braskem. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado›

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, leu em Plenário nesta terça-feira (24) o requerimento que pede a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar os danos ambientais causados em Maceió pela empresa petroquímica Braskem.

Com a leitura, os partidos já podem indicar representantes e a CPI pode ser instalada. O requerimento foi apresentado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL).

A Braskem fazia extração de sal-gema na capital alagoana, nos arredores da Lagoa Mundaú, região onde há falhas geológicas no solo. Desde 2018, bairros próximos às operações vêm registrando danos estruturais em ruas e edifícios.

Mais de 14 mil imóveis foram afetados e condenados, e os casos já forçaram a remoção de cerca de 55 mil pessoas da região. As atividades de extração foram encerradas em 2019, mas os danos podem levar anos para se estabilizarem.

A comissão terá 11 membros titulares e sete suplentes e um prazo inicial de 120 dias — que pode ser prorrogado — para conduzir os seus trabalhos. O requerimento contou com assinaturas de 45 senadores, 18 a mais do que o mínimo necessário para garantir a criação de uma CPI.

Renan contra Cunha

No requerimento, Renan afirma que a Braskem não tem cumprido a reparação devida pelos danos e não tem prestado as contas devidas. O senador aponta também a necessidade de investigar a solvência da empresa e a distribuição de dividendos entre os acionistas.

“Não obstante a realização de acordos judiciais com os moradores, há um desconhecido passivo decorrente das necessárias medidas de preservação do patrimônio ambiental e histórico de Maceió, além de, recentemente, o município ter assinado acordo com a empresa para a reparação dos danos urbanísticos no valor de R$ 1,7 bilhão, que não estavam previstos anteriormente. Somam-se ao passivo a perda de arrecadação tributária estadual, novos riscos, ações judiciais individuais em trâmite e a demanda por infraestrutura metropolitana”.

O senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) contestou a criação da CPI, argumentando que o tema da investigação é de competência de estados e municípios e, portanto, não caberia intervenção do Congresso Nacional. Além disso, Rodrigo argumentou que o senador Renan Calheiros não deveria ser autorizado a participar da CPI.

O senador Rodrigo Cunha questionou a esfera de competência para investigação do caso. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado›

“Pode alguém que tenha sido presidente da empresa investigá-la? Se o governador permitiu a exploração que causou o dano, pode seu pai estar aqui avaliando? Há uma confusão entre investigado e investigador”.

Renan foi presidente da Salgema, uma antecessora da Braskem, entre 1993 e 1994 e é pai de Renan Filho (MDB-AL), senador licenciado e governador de Alagoas entre 2015 e 2022.

Renan defendeu o propósito da CPI e criticou Rodrigo por colocar obstáculo à criação da comissão.

“O que a Braskem proporcionou a Maceió foi o maior acidente ambiental urbano de todos os tempos no mundo. Não é demais observarmos no Senado alguém preocupado em não haver investigação, para garantir a impunidade?”

O presidente Rodrigo Pacheco indeferiu a questão de ordem apresentada pelo senador Rodrigo Cunha, argumentando que a proteção ao meio-ambiente é uma competência federal e que não se aplicam aos senadores regras de impedimento e suspeição no exercício dos mandatos. Rodrigo Cunha recorreu da decisão ao Plenário, mas isso não impede o andamento da criação e instalação da CPI.

Alagoas e Maceió

A CPI pode ser vista como mais um passo na disputa entre Renan e o presidente da Câmara, Arthur Lira. Rivais políticos, eles se dividem sobre quem deve receber a indenização bilionária da Braskem. O grupo de Calheiros quer o dinheiro para o Governo do Estado. O de Lira quer para a prefeitura de Maceió, favorecendo o prefeito JHC.

Vale constar que a Braskem já fechou um acordo de indenização bilionário com a prefeitura de Maceió. A empresa pagou R$ 1,7 bilhão de indenização para a Prefeitura de Maceió, que já usou parte do dinheiro, R$ 266 milhões, para compra o primeiro hospital público da capital, o Hospital do Coração, hoje Hospital da Cidade. Claro, a compra e o valor também são alvos de escrutínio e disputa interna.

A CPI no Senado, inclusive, deve analisar de perto os valores repassados para a Prefeitura de Maceió, assim como o destino desse dinheiro na gestão JHC. Renan Filho, ex-governador, eleito senador e hoje ministro no governo Lula, já se adiantou e está convicto de que houve corrupção e desvio financeiro na compra do hospital.

No entanto, o próprio governo Lula via a CPI sem propósito e com grandes chances de impactar negativamente as contas da Petrobras, a segundo maior acionista da Braskem.