7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Executado: Policial antifascista previu morte há 9 meses

”Ontem foi Marielle, já foi Doroty e amanhã pode ser eu”

João Maria Figueiredo, Polícia Militar, foi executado nesta sexta-feira (21), com cinco tiros na cabeça por volta das 17h na Zona Norte de Natal. O assassino levou a arma funcional e o celular do PM.

Cabo Figueiredo, como era conhecido, era filiado ao PT até entrar na PM em 2009 e foi voluntário na equipe de segurança da campanha da governadora eleita Fátima Bezerra e era cotado para integrar a equipe dela a partir de 1º de janeiro.

Figueiredo era membro ativo do grupo Policiais Antifascismo, movimento criado por operadores de Segurança Pública que luta pela democracia e pelos Direitos Humanos dentro da estruturas das polícias.

A violência, para Figueiredo, era um problema social ligado à criminalização do povo pobre e preto das periferias brasileiras. Foi convidado várias vezes para dar palestras sobre Segurança, Direitos Humanos e descriminalização das drogas como alternativa para redução da violência urbana.

Em 15 de março de 2018, um dia depois da execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), Figueiredo participou de um debate sobre Violações dos Direitos Humanos no interior das Corporações Policiais, durante o Fórum Social Mundial, realizado em Salvador (BA).

A participação de Figueiredo durou 14 minutos. Na ocasião, ele desabafa sobre as dificuldades e os desafios assumidos pelas pessoas que lutam em defesa dos Direitos Humanos no país. E ele previu o que acabara acontecendo.

Vi meus colegas cariocas lamentando, chorando pelo que ocorreu ontem (a execução de Marielle). Infelizmente, tentaram dar uma prova de força. Marielle foi a vítima recente, já foi a Doroty [missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005 no Pará], tantas outras. E amanhã pode ser eu. Mas quando eles eliminam uma pessoa, eles fazem nascer várias outras. Agora vão nascer várias outras Marielles porque aquilo ecoa e o poder do exemplo é muito forte. João Maria Figueiredo, Polícia Militar, ativista, assassinado.

A governadora eleita Fátima Bezerra (PT) cobrou a “devida apuração” para que os responsáveis pela execução de João Maria Figueiredo sejam identificados e punidos nos rigores da lei.