O que começou com uma denúncia de uso de verbas públicas pagas à candidatas laranjas pelo PSL e teve até mesmo o filho do presidente chamando um ministro de mentiroso, com direito a vazamento de áudio presidencial, Bebiano está finalmente fora do governo.
Em reunião na noite desta sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro avisou a Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que ele será exonerado. E decisão formalizada acontece nesta segunda-feira. É o primeiro ministro a cair no governo Bolsonaro. Mas, por pressões de aliados, o ministro Ônix Lorenzoni ficou de encontrar uma “saída honrosa” para o caso, que pode ser a ida de Bebiano para a direção de uma empresa estatal.
Figura próxima e importante politicamente, Bebiano (que presidiu o partido do presidente durante as eleições), que antes resistia, já admite a amigos que deixará o cargo.
Balançou até cair
Aliados do presidente lembravam que a demissão, em crise exposta nas redes sociais, fragilizaria a imagem do governo perante o Congresso e a opinião pública. E isso poderia colocar em risco uma das prioridades de sua gestão: a aprovação da reforma da Previdência, que será apresentada na semana que vem.
A gota d’água para Bolsonaro, que recebia recomendações para manter o aliado no governo, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja.
Ele então fora chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro, filho mais velho, vereador no Rio de Janeiro e estrategista digital de Bolsonaro – embora ainda sem cargo oficial. No Twitter, Carlos postou no Twitter que Bebiano mentiu ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera. O vereador chegou a divulgou um áudio do Presidente como prova.
Não há roupa suja a ser lavada! Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebiano o assunto exposto pelo O Globo como disse que tratou: pic.twitter.com/pJ4bkvMMGj
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 13 de fevereiro de 2019
Crise
Bolsonaro, que havia acabado de receber alta após 17 dia internado, resultado da reversão da colostomia, apoiou a decisão do filho e chegou a compartilhar suas mensagens. E em entrevista na Record, confirmou que não falou com o ministro.
E mais: determinou a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estivesse envolvido, “o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, ou seja, deixar o governo.
Segue pequeno trecho da entrevista cedida ao jornalista @eduribeirotv do @jornaldarecord esclarecendo alguns fatos explorados na mídia no dia de hoje: pic.twitter.com/igPIk4njvR
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 14 de fevereiro de 2019
Agora, aliados de Bolsonaro querem que o filho Carlos reduza o tom de postagens nas redes sociais que possam comprometer o governo. Desde quarta, ele tem publicado apenas mensagens de ações governamentais e, inclusive, um elogio a Mourão, a quem já dirigiu diversas críticas recentemente.
A avaliação é a de que Carlos, que tem um temperamento considerado difícil, pode até, temporariamente, reduzir o tom das críticas a integrantes do governo nas redes sociais, mas que é impossível afastá-lo definitivamente.
Laranjas
A primeira denúncia sobre os laranjas do PSL mostrou que o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas que também receberam recursos volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que não tiveram nem 2.000 votos, juntas.
Parte do gasto que elas declararam foi para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara dos Deputados. Após essa revelação, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou que esse caso deveria ser investigado. O ministro do Turismo balançou, mas não caiu.
O grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O dinheiro foi liberado por Bebianno.
Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficia.
Já nesta semana, a Folha revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada —sem maquinário para impressões em massa. O ministro nega qualquer irregularidade.
E depois da troca de áudios no Twitter, e uma ajuda inadvertida de Carlos Bolsonaro, desafeto de Bebiano, o então ministro e ex-presidente do partido do presidente, caiu. E atirando, como visto em sua postagem no Instagram, com um texto sobre “lealdade”.