4 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Laranjas, filhos e Queiroz: o racha interno do PSL, partido do presidente

Jair Bolsonaro não quer se associado com Luciano Bivar, presidente do próprio partido

Jair Bolsonaro (PSL) não quer se associado com Luciano Bivar, presidente do próprio partido

Apesar de ser eleito com a proposta de combater a corrupção e a interminável defesa do ministro da Justiça Sergio Moro, o partido de Jair Bolsonaro (PSL) enfrenta denúncias envolvendo candidaturas “laranjas” na eleição do ano passado desde o início deste ano.

Os casos já levaram à queda de um ministro, a acusações contra outro e à perda de força do presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE). E os efeitos políticos das denúncias foram fortes na terça-feira (8), quando Bolsonaro pediu para um apoiador esquecer o PSL. Como resposta, uma ala da legenda também organizou um manifesto de apoio a Bivar.

O manifesto exalta a importância da sigla nas eleições de 2018 e prega que Bivar redistribua postos de comando da legenda nos municípios, medida que poderia inclusive desfazer arranjos impostos por Flávio Bolsonaro no Rio e Eduardo Bolsonaro em São Paulo.

O abandono do partido, no entanto, não deve se restringir apenas ao presidente e seus filhos: A deputada federal, Alê Silva (PSL-MG), que denunciou os laranjas do partido, estuda medidas jurídicas para deixar o partido sem perder seu cargo

“Eu também estou dando o mesmo conselho para meus seguidores, meus eleitores: esqueçam o PSL. E eu também estou louca para esquecer”. Alê Silva, deputada federa (PSL-MG).

Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, responsável pelas laranjas do PSL

Apesar disso tudo, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio (PSL), afirmou que não pretende se afastar do cargo, mesmo após ser denunciado por corrupção pela Procuradoria Eleitoral de Minas Gerais pelo uso de candidaturas laranjas em 2018 e diante da possibilidade da abertura de uma nova investigação, agora por caixa 2.

“Quem não deve não teme. Por que me afastaria, se tenho a consciência tranquila? Não vejo problema nenhum, caso abra essa segunda investigação para caixa 2. Sempre zelei por observar as regras da lei eleitoral. Portanto, estou absolutamente tranquilo em relação a esses fatos”. Marcelo Álvaro Antonio (PSL), ministro do Turismo.

Uma candidata “laranja” teria recebido R$ 400 mil de dinheiro público para a eleição de 2018. A quantia foi enviada pela direção nacional do PSL, que, na época, estava sob responsabilidade de Gustavo Bebianno, secretário-geral da Presidência no início do governo Bolsonaro.

Bebianno saiu do cargo pouco após o escândalo surgir, mas mais por polêmicas com o filho do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Bivar continua no comando do partido.

Queiroz

Queiroz

O ataque feito por Jair Bolsonaro a seu próprio partido, em razão da briga pelo comando de um fundo partidário de R$ 359 milhões, fez ainda membros do próprio partido mencionarem Queiroz. Um dos defensores do manifesto é o deputado Júnior Bozella (PSL-SP), que deixou no ar uma ameaça:

“Temos o caso do Queiroz e o do ministro do Turismo, e o presidente tenta encobrir esses dois assuntos ao mesmo tempo em que desfere ataques indevidos ao PSL. O partido é um partido de bem, conduzido por pessoas de bem. Se Bivar não tivesse abrido as portas, o presidente fatalmente não teria tido legenda para concorrer em 2018. Se hoje ele é o que é, deve isso ao deputado Bivar e ao PSL”. Júnior Bozella (PSL-SP).

Líder do partido vs Flávio Bolsonaro

O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que agiu para enterrar a CPI da Lava Toga, que tem como foco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), é alvo de críticas do líder do próprio partido, o senador Major Olímpio (PSL-SP).

O filho do presidente Jair Bolsonaro, durante seu mandado como senador neste ano, foi alvo de denúncias por seu envolvimento com o famigerado Queiroz, assessor quando ainda deputado estadual no Rio. Mas apesar de todas as evidências de caixa 2, o judiciário o favoreceu interrompendo inquéritos do MPE/RJ. Até mesmo o Coaf foi extinto.

Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária. Ordem do dia. E/D: senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ); senador Eduardo Girão (Pode-CE); senador Major Olimpio (PSL-SP). Foto: Roque de Sá/Agência Senado

A articulação de Flávio Bolsonaro para abafar a CPI da Lava Toga chegou a resultar na saída da senadora Juíza Selma (MT) do PSL. Selma se filiou ao Podemos no dia 18 de setembro, em cerimônia que contou com a presença de Olimpio.

O senador afirmou que considerou sair do PSL, mas que depois chegou à conclusão de que “iria dar moleza para quem está errado”. De acordo com o líder, quem deveria sair é Flávio Bolsonaro. E apesar das aparências, o presidente não vai confundir as coisas:

“Eu não confundo as coisas, continuo sendo apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Comigo não tem essa conversa, não. Ah, é filho do presidente. Que se dane! É filiado que nem eu, vai ouvir as verdades que tem que ouvir. Isso aqui não é dinastia, é partido”. Major Olímpio (PSL-SP), senador líder do partido.

Major Olímpio ainda se disse “perplexo” com as declarações de Jair Bolsonaro sobre o partido. O senador afirmou que não entendeu a postura do mandatário do Planalto, porque “todos os pedidos dele são atendidos pela direção” da sigla.

E claro, sem ficar de fora, Carlos Bolsonaro, o filho pitbul das redes e que nem do partido faz parte (ele é vereador no Rio de Janeiro pelo PSC), pelo Twitter rebateu às declarações do líder do PSL sobre seu pai presidente que pediu para “esquecer” o PSL:

Aparentemente, Carluxo acha que só seu pai é imune às críticas.