7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Economia

Mais de US$ 11 bilhões: Árabes devem trocar carne do Brasil pela da Índia

Brasil levou 40 anos para conquistar mercados

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), cumprindo promessa de campanha, pretendia mudar a embaixada brasileira da Palestina para Israel, o que enfureceu o mercado árabe, maior comprador de carne e frango do Brasil.

Durante visita a Jerusalém, ele realizou uma concessão e abriu apenas um escritório brasileiro de negócios, mas não foi suficiente para atenuar a insatisfação dos países árabes com a política externa do governo Bolsonaro. Agora, o Brasil se arrisca a perder espaço na exportação de carne bovina, frango, soja e milho.

Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, afirmou que há uma insatisfação entre os representantes diplomáticos árabes por causa de um “movimento desnecessário” por parte do governo Bolsonaro, que pode ameaçar a preferência dos árabes pelos produtos brasileiros.

De acordo com a Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil), 45% da carne de frango e 40% da bovina que o país exporta hoje levam o selo halal, a que pode consumida segundo preceitos islâmicos.

Troca

Michel Alaby, que atuou por 35 anos na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, tendo exercido vários cargos, inclusive o de presidente, acredita que a Liga Árabe (22 nações ao todo, excluindo muçulmanos não árabes, como Turquia e Paquistão) pode trocar os principais produtos brasileiros por fornecedores de outros países, entre eles, Índia, Turquia, Estados Unidos e Argentina.

No ano passado, as exportações totais brasileiras para os países árabes somaram US$ 11,49 bilhões, uma queda 14,8% em relação a 2017, quando alcançaram US$ 13,59 bilhões.

“Levamos mais de 40 anos para conquistar o mercado dos países árabes e, agora, por uma impropriedade, podemos sofrer retaliações, embora não tenha como ser mensurado isso no momento porque os contratos de exportação são de médio e longo prazos com os fornecedores”. Michel Alaby, presidente da Liga Árabe.

No início deste ano, a pauta de exportações para os árabes já vinha mostrando uma recuperação depois do recuou em 2018. Os embarques para esses mercados em janeiro e fevereiro somaram US$ 2,12 bilhões, 15,9% a mais do que no mesmo período de 2017 (US$ 1,83 bilhão).

Bolsonaro

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou nesta segunda-feira (1º) que “é direito” dos palestinos reclamarem de sua intenção de mudar a embaixada brasileiro em Israel para Jerusalém, mas que pretende fazer isso antes do fim de seu mandato, em 2022.

A declaração foi dada após Bolsonaro sair de um almoço em um hotel em Jerusalém, um dia após ele anunciar abertura de um escritório de negócios na cidade, uma repartição sem status diplomático.

“O que eu quero é que seja respeitada a autonomia de Israel. Se eu fosse hoje abrir negociações com Israel, eu colocaria a embaixada onde? Em Jerusalém. Não queremos ofender ninguém, mas quero que respeitem a nossa autonomia”. Jair Bolsonaro.

Questionado por jornalistas como essa decisão seria recebida pelos palestinos e se ela viola resoluções da ONU sobre Jerusalém, o presidente disse que “é direito deles reclamar”.