6 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Ministra da Agricultura: ‘Musa do Veneno’ tem ligações com JBS

Amigo de quase três décadas era cotado para a vaga, mas diz que a perdeu pela “força do poder político”

Escolhida para assumir o Ministério da Agricultura de Jair Bolsonaro, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS) admitiu, nesta quinta-feira (8), ter negócios com o grupo JBS, mas negou haver conflito de interesses.

“Eu tenho uma propriedade, um condomínio com meus irmãos, sou inventariante e minha família arrenda um confiamento para a JBS, que é do lado da nossa propriedade. Isso há muitos anos”, disse.

Cristina afirmou que tem participação de um quinto na propriedade arrendada ao grupo. Ela, porém, negou conflito de interesses e disse não haver desconforto em assumir o ministério.

A deputada também admitiu ter recebido, indiretamente, recursos do frigorífico.” Eu não tive doação da JBS direta para mim, foi via, se não me engano, dois parlamentares do meu Estado. Não tenho problema. Tenho tranquilidade, as doações são legais”, afirmou.

Cristina é engenheira agrônoma e ganhou neste ano dos colegas o apelido de “musa do veneno”, por sua atuação em defesa do projeto de lei 6299/02, que flexibiliza as regras de utilização de agrotóxicos no País, conhecido como PL do Veneno. O PL foi aprovado em junho por uma comissão especial presidida por Tereza Cristina na Câmara e ainda precisa passar pelo plenário.

O relatório prevê que pesticidas possam ser liberados pelo Ministério da Agricultura mesmo se órgãos reguladores, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não tiverem concluído suas análises.

Amigo perdeu vaga

O presidente da UDR (União Democrática Ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia, 60, era cotado para assumir o ministério da Agricultura no governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), mas viu nesta quarta-feira (7) o amigo de quase três décadas anunciar a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) para o cargo.

“Apoiei o Bolsonaro desde o início. Nunca fui um apoio de segundo tempo”, desabafou o pecuarista, que organizou a primeira viagem do então candidato após o início oficial da campanha, um tour pelo interior de São Paulo iniciado por Presidente Prudente (SP), terra natal de Nabhan. Na avaliação dele, venceu a “força do poder político”.

O pecuarista diz esperar que o governo cumpra a promessa de pôr fim à “velha política”, mas fez questão de lembrar que desde a pré-campanha Bolsonaro alardeou que iria escolher para a pasta alguém indicado pela “base produtora”.

Desde a eleição, o ruralista se envolveu em atritos públicos e reservados com o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil, que é correligionário de Tereza.

Irritado, o presidente da UDR enviou em um grupo de WhatsApp da entidade uma mensagem dizendo que já viu “muito pavão virar espanador”. A crítica vazou e apareceu em reportagem da revista Piauí. E seu futuro político acabou ali.