7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Obsessão com Carlinhos Maia e seus reflexos na política nacional

“Para ter alcance, é preciso ter conteúdo” deixou de ser realidade

Um deles é Carlinhos Maia e se casou com seu noivo nesta semana

Antes deste ensaio, é bom enfatizar que, honestamente, eu não conhecia nada sobre Carlinhos Maia, aparentemente um influenciador digital que teve seu casamento nesta semana visto por milhões de pessoas na internet. Evento com muitos famosos e políticos, que aconteceu próximo não do rio Xingu, mas sim do rio Xingó.

Deu que este Maia é mais um das inúmeras personalidades que souberam, como poucos, a arte de faturar com as redes sociais. Os jovens hoje não assistem Malhação, mas sim stories. Com muitos seguidores e postagens fielmente acompanhadas, uma simples menção ou mensagem de algo é sucesso garantido de marketing. Seja por escambo ou dinheiro direto, estes anunciam perfumes, roupas, jogos, carros e até cidades. E ganham bastante com isso.

Algo que ainda incomoda os que não souberam ou mesmo não entenderam exatamente como fazer o mesmo. Críticos do retorno econômico e alcance dos influenciadores ainda estão atrelados no conceito de que “para ter alcance, é preciso ter conteúdo”. Ou que é preciso “oferecer um serviço útil” para se sustentar no mercado.

Besteira.

Os milhões de atingidos por influenciadores não querem exatamente qualidade ou utilidade. É algo não tangencial: elas querem sentir. Muitos querem poder, através de inúmeras telinhas, seguir de perto a vida de personalidades. Seja por acreditar que pensar e possuem gostos semelhantes, ou se sentem próximos e gostariam de uma amizade virtual (mesmo que essa não seja diretamente recíproca) e principalmente ignorar seus problemas e meio que viver a vida de outra pessoa, se projetando em seu influenciadores.

Aparentemente, Carlinhos Maia é o maior de todos os influenciadores do Brasil em número de seguidores. Embora sua rixa com Whindersson Nunes, outro influenciador, coloque essa informação em disputa, já que eles estão com réguas em mão pra saber quem tem mais. Mas este é dos maiores e assim como poucos vive uma vida de luxo, viajando, com mansões e aviões particulares (eu não quis investigar nada sobre Carlinhos Maia, ele é assim ricaço mesmo?), então são pessoas a serem seguida por seus fãs.

Os influenciadores são os novos atores, as novas celebridades, os novos Kardashians: são famosos por serem famosos. Em seus pequenos nichos: ninguém é necessariamente “famoso”, mas pulverizam aqui e ali sua fama e acabam se tornando grandes em suas bolhas.

O curioso é que estes não se incomodam com notícias ou comentários os abordam. É o literal “fale mal, mas fale de mim”. Fazer piadas e teorizar sobre o absurdo de um “não-famoso”, alguém que “não faz nada” ter um casamento virar notícia e ser acompanhado por milhões é irônico: estão apenas alimentando a rede que pouco a pouco incrementa os seguidores. Diabos, mesmo com este texto querendo ignorar quem é Carlinhos Maia, de alguma forma está falando dele, afinal.

Entretanto, o problema é mais embaixo: uma coisa é acompanhar uma celebridade pela fofoca, por seu estilo de vida, para comprar o que ela endossa. Outra é dar poder político social. “Nova política”, que seja, mas um ponto além do influenciador digital está o que de forma esperta utilizou as armas das redes sociais para ganhar força política.

A nova política é a dos influenciadores

Observe esta foto acima, retirada ontem na Câmara dos Deputados em Brasília: cada um destes deputados está de cara virada para seu celular, fazendo uma live ou gravando um vídeo que logo deve viralizar, com conteúdo que promete ou lacrar, ou mitar. E ser espalhado em uma das redes sociais que Mark Zuckerbeg é dono, sem auxílios de uma assessoria. Falam o que dá na telha, às vezes sem dados, às vezes sem fatos, muitas vezes com fervor.

Olhe novamente aquela foto. Tente se lembrar das vezes em que foi noticiada a preocupação de um político em tomar uma decisão, votar em algo a partir de seus “milhões” de seguidores. Pautados por uma ideia de que os internautas mais ativos são responsáveis pelos desejos da maioria. Estes que, infelizmente, acabam pendendo mais para os lados extremos da balança. Seja ela pra esquerda ou pra direita.

A questão toda da obsessão com Carlinhos Maia é uma perda de perspectiva. Além de não compreender que quem capitalizou como digital influenciador não está fazendo mais do que seu. Quem se importa se você não se importa com o quão seria ridículo algumas atitudes dos famosos da internet? O fascínio está apenas para com os fãs e estes vão apenas engolir o conteúdo o que recebem.

O problema é quando os comuns se tornam mitos, mesmo despreparados, e de forma sábia souberam politizar a força dos meios digitais. O casamento desta semana pode até ter sido o ápice da onda do influenciador digital, mas ainda estamos escalando a crescente do político digital, que fala para as redes e acha que está falando para todos.

Na verdade estão falando para seus nichos, para suas bolhas. E aqueles que não sabem necessariamente o que diabos está acontecendo se encontram em um ambiente político que não evolui de forma alguma. E as peças principais estão com a cara virada pras telinhas, falando pro seu gado. E o gado seguindo.

One Comment

  • Avatar Charlie L.Santal

    Muito bem. Vale refletir sobre essa história toda aí. O diabo é saber quem quer mesmo fazer reflexão nos dias de hoje, com um povo demasiado alienado que só pensa no murmurar de sua própria bolha

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