6 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

População se divide sobre reforma da Previdência e apoiadores crescem

Queda na rejeição e o crescimento do apoio à reforma aparecem em todas as faixas de idade, escolaridade e renda familiar

Maia e Guedes já estiveram em rota de colisão por causa da reforma da previdência

Os deputados federais estão próximos de votarem a reforma da Previdência e depois de tanto tempo se arrastando no congresso, a pauta já mudou de lado na população e deixou de ser rejeitada pela maioria dos brasileiros,.

Segundo pesquisa Datafolha, a fatia dos que se opõem às mudanças nas aposentadorias e pensões caiu de 51% para 44% entre abril e julho. Os apoiadores subiram de 41% para 47%. Numericamente maior, mas dentro da margem de erro (de dois pontos percentuais para mais ou para menos), o que configura empate técnico.

Curiosamente, a divisão foi semelhante à da pesquisa quando o assunto foi o governo Bolsonaro: para 33%, o presidente faz um trabalho ótimo ou bom. Para 31%, regular, e para outros 33%, ruim ou péssimo.

A queda na rejeição e o crescimento do apoio à reforma aparecem em todas as faixas de idade, escolaridade e renda familiar e ocorreram também independentemente das escolhas eleitorais em 2018.

A mudança de opinião foi mais forte entre os eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) e entre os que declaram não ter votado nem no atual presidente nem em Fernando Haddad (PT). Bolsonaristas favoráveis à reforma eram 55% em abril e agora são 67%; contrários caíram de 36% para 27%. Entre os haddadistas, a rejeição passou de 72% para 67%, e o apoio subiu de 22% para 25%.

No grupo dos que não votaram em nenhum dos dois, a oposição é majoritária (61%), mas 11 pontos abaixo de abril; o apoio foi de 19% para 26%. O Datafolha ouviu, nos dias 4 e 5 de julho, 2.086 brasileiros com 16 anos ou mais em todo o país.

Novo texto

Entre essa pesquisa e a de abril, deputados federais alteraram a proposta original do governo Bolsonaro, atenuando as regras para parcelas da população. O novo texto reduz o tempo de espera pela aposentadoria de servidores e trabalhadores do setor privado que estão mais perto de obter o benefício, por exemplo.

Também retira da reforma o funcionalismo estadual e municipal e antecipa em até cinco anos (em relação à versão original do governo ) o recebimento de aposentadorias mais altas pelos servidores mais antigos. Na direção oposta, a nova proposta reduz valores de benefício de quem está a pelo menos dois anos da aposentadoria no setor privado.

O QUE ESTÁ DENTRO DA REFORMA:

Idade mínima

  • Pelas novas regras, homens terão direito a aposentadoria com 65 anos de idade, com 20 de contribuição, e mulheres com 62 anos, com 15 de contribuição.

Professores

  • Idade mínima de 60 anos para homens, com 30 anos de contribuição, e 57 para mulheres, com 25 anos de contribuição.

Tempo de contribuição

  • Setor privado: 20 anos para homens, 15 anos para mulheres. Setor público: 25 anos para homens e mulheres.

Regra de transição

  • O relator acrescentou uma regra de transição que valerá tanto para o serviço público como para a iniciativa privada. Os trabalhadores a mais de dois anos da aposentadoria terão um pedágio de 100% sobre o tempo faltante para terem direito ao benefício. No caso dos servidores públicos que entraram antes de 2003, o pedágio dará direito à integralidade e à paridade.

Abono salarial

  • Pagamento de abono salarial do PIS/Pasep. Hoje, o benefício é pago para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos (R$ 1.996 em 2019) por mês. Com a reforma, o valor será pago a quem recebe, no máximo, R$ 1.364,43.

Ações na Justiça

  • A proposta aprovada definiu que as ações judiciais previdenciárias poderão ser julgadas pela Justiça estadual, quando a comarca não for sede de uma vara federal.

Imposto sobre bancos

  • A proposta aprovada pela comissão manteve o aumento na alíquota de CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) de 15% para 20% exclusivamente para bancos.

Pensão por morte

  • Governo queria limitar pagamento, hoje integral, a 60% do benefício mais 10% por dependente. Primeiro relatório barrava valor abaixo do mínimo caso fosse a única renda do beneficiário. Agora, diz que o critério vale para “conjunto de dependentes”.

O QUE AINDA PODE ENTRAR

Regras especiais para policiais

  • Pelo relatório, policiais se aposentarão com idade mínima de 55 anos, sem regra de transição. Policiais na ativa queriam pagar um pedágio de 17% sobre o tempo de contribuição que faltaria para se aposentar nas regras atuais. Moreira propôs um pedágio de 100%.

Estados e municípios

  • Um dos mais polêmicos itens, os estados e municípios não foram contemplados pelo relatório do deputado Samuel Moreira. Vão ter que realizar as mudanças em suas respectivas assembleias legislativas.

O QUE DEVE FICAR DE FORA

Contribuição social

  • O texto abria brecha para incidência sobre vale-alimentação, mas o relatório manteve as regras como são atualmente: incidência apenas sobre folha de salários.

Capitalização

  • O relatório retirou o artigo que abria caminho para a criação do modelo de capitalização, em que cada trabalhador poderia fazer a própria poupança.

Benefício de Prestação Continuada (BPC)

  • O parecer retirou a proposta do governo em relação ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é pago um salário mínimo a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda. A proposta original previa o pagamento após os 70 anos.

Desconstitucionalização

  • Retirava da Constituição regras que definem idade e tempo de contribuição mínimos, o que permitiria que futuras mudanças pudessem ser feitas por meio de projeto de lei.

Recursos do PIS/Pasep

    • O texto-base aprovado não destina à Previdência recursos do PIS/Pasep que hoje ajudam a financiar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).