(*) Por Graça Carvalho
Estacionada no Congresso Nacional desde o primeiro semestre do ano passado, a Reforma da Previdência agora parece até uma peteca pulando de um lado para o outro. Se era pra sair rolando até a pauta das eleições 2018 – que se debatesse a reforma no horário de propaganda gratuita. Tudo bem. Como se diz aqui no Nordeste, isso daria muito “pano para mangas”.
Aliás, deu, mas custou muito caro. O Governo Temer gastou R$ 110 milhões de propaganda para tentar empurrar goela abaixo essa reforma, mais especificamente entre janeiro de 2017 e fevereiro de 2018. Ninguém aguentava mais ouvir falar nesse assunto e mais ainda pelo fato de o dinheiro público ter ido parar no ralo, para nada. Quem estava na expectativa de se aposentar continua no limbo. Não sabe se vai ou se fica. O desfecho dessa novela é uma grande interrogação.
O que está claro é que o gasto com propaganda não convenceu, nem pelo conteúdo do discurso veiculado, nem pela real necessidade desse “investimento”. Tá difícil compreender o tamanho desse cifrão, num país onde mais da metade da população vive com menos de um salário mínimo de R$ 954? Tudo bem, vamos traduzir em pipocas. Só para se ter uma ideia, simplória, do quanto de dinheiro público caiu no ralo, com os R$ 110 milhões gastos com propaganda, um cidadão amante de pipoca (daquela famosinha da embalagem amarela) compraria mais de 73 mil saquinhos, a R$ 1,50 cada. Uma verdadeira farra de pipoca.
Para onde foi tanto dinheiro? Um levantamento pormenorizado, realizado pelo site especializado Congresso em Foco, revelou que um terço de todo o montante foi direcionado à TV Globo. Foram R$ 36,1 milhões por meio do CNPJ da matriz e de quatro filiais. Para a rádio e a TV Record foram pagos R$ 12,3 milhões.
O SBT ficou com R$ 9,9 milhões. Rádio e TV Band (incluindo filiais em Campinas e na Bahia), por sua vez, receberam R$ 1,9 milhão. Juntas, as quatro emissoras ficaram com R$ 60,3 milhões, ou seja, 90% dos R$ 66,9 milhões destinados a todas as TVs.
E um detalhe que não pode deixar de ser dito é que o próprio site Congresso em Foco também recebeu uma fatia dessa verba. Foram exatos R$ 24.457,03, divididos em três pagamentos em julho, setembro e dezembro de 2017. Está tudo lá noticiado. Pode até alguém levantar que não houve ilegalidade na distribuição desses valores, nem na sua motivação, mas, vamos combinar, o que é legal, nem sempre pode ser entendido como moralmente aceitável.
Em tempo, esse assunto de aposentadoria, na verdade, já está meio passado. O que pipoca agora é a discussão sobre um Ministério da Segurança Pública. Ou seria um Ministério da Segurança Jurídica? Sei não, vou me informar melhor.