No plenário do Congresso Nacional, em pleno 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, a deputada trans Nicole Ferreira fez um discurso completamente transfóbico. Com imensa dificuldade de se aceitar, atacou gente como ela mesma. Chocados, outros parlamentares falam em processo de cassação.
Antes de tudo: o que aconteceu ontem não tem como ter sido obra de uma ação sarcástica ou irônica, pois ninguém seria tão idiota de fazer aquilo, naquele local. Então realmente houve uma revelação com saída do armário. Mas fruto de preconceito e ódio, Nicole não aceitava quem ela era.
Tal qual um homofóbico que fica vigiando os interesses sexuais de pessoas do mesmo sexo (sem perceber a atração que estaria por trás disso), ou mesmo, fora do tema sexualidade, tal qual o dito “cidadão de bem” que critica corrupção, mas abusa do jeitinho brasileiro, ou o religioso que adora criticar o pecado dos outros sem nem estar próximo de poder jogar a primeira pedra, Nicole apenas atacou a si mesma.
“Hoje eu me sinto mulher. Deputada Nicole. E as mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres. Para vocês terem ideia do perigo de tudo isso, eles estão querendo colocar a imposição de uma realidade que não é a realidade. Ou você concorda com o que estão dizendo ou, caso contrário, você é um transfóbico, um homofóbico e um preconceituoso”. Nicole, atingindo-se a si mesma.
Uma das coisas mais graves no discurso da parlamentar mais votada do Brasil, graças às popularidades de seus vídeos com dancinhas e edições joviais no TikTok, foi ter dito que “pais de família” não poderiam ser transfóbicos ao recusar “um homem de 2 metros de altura, um marmanjo, entrar no banheiro da sua filha”.
Pura projeção. Assim como não vemos casos de homossexuais agredindo ou matando héteros por serem héteros, de ativistas de esquerda agredindo ou matando rivais políticos da direita, ou mesmo notícias de trans molestando crianças, infelizmente, nossas crianças estão em perigo por outro motivo: segundo o Ministério dos Direitos Humanos, quase 90% da violência sexual contra crianças acontece no ambiente familiar.
Não que todo “pai de família” ou “cidadão de bem” cometa esse crime. Se fosse isso, estaríamos acabados, pois mais da metade dos eleitores votam com esse discurso. Mas obtusos, não percebem crimes do dito religioso de fé, de padres contra coroinhas (até mesmo João Paulo II, antes de ser Papa, ocultou crimes de pedofilia) e de menores de idades vítimas de tios, padrastos, pais… Algumas até engravidam antes do 12 e nem mesmo podem abortar.
Pare pra pensar: quando foi a última vez que uma mulher trans agrediu alguém em um banheiro público? Os casos de agressões, normalmente, são praticados pelos preconceituosos cidadãos de bem contra elas.
Existem negros racistas. Existem gays homofóbicos. Existem trans transfóbicos. Por etiqueta, não discutimos o nome de registro anterior. E até mesmo odiando gente como ela mesmo, é preciso respeitar suas decisões e chamar a parlamentar de “Nicole “. Mas não respeitar seus atos. Ela precisa ser cassada.
O Plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje.
— Arthur Lira (@ArthurLira_) March 8, 2023
E o presidente do Congresso, Arthur, Lira, precisa fazer mais do que uma nota de repúdio.