7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Três Pinos: Governo quer o fim da “tomada do PT”

Após fim do horário de versão, governo já visava mudar formato das “urnas eletrônicas inauditáveis” e o acordo ortográfico

Demonizada como “tomada do PT”, plug de três pinos é o novo alvo de mudanças do governo

Depois do fim do horário de verão, o presidente Jair Bolsonaro e seu assessor internacional, Filipe Garcia Martins, em 6 de abril, já prometiam seus próximos alvos: a tomada de três pinos, as “urnas eletrônicas inauditáveis” e o acordo ortográfico.

Antes mesmo dela, o presidente foi ao Congresso e apresentou propostas para leis de trânsito, algumas delas chocantes, como o fim das cadeirinhas para crianças.

E tomando rumo novamente às suas ‘ameaças vermelhas’, a bola da vez será mesmo a tomada de três pinos. Ou, como eles gostam de dizer, “a tomada do PT”. O padrão, obrigatório desde 2011, teria todo o “apoio da sociedade brasileira”, mote clássico do governo.

“A sociedade brasileira, com toda legitimidade, rejeitou a tomada de três pinos. Sua revogação não deve ser vista como algo meramente folclórico. Não é só um tema técnico. É um tema que afeta a segurança, a concorrência e a produtividade”. Carlos Alexandre da Costa, secretário especial de Produtividade e Competitividade.

A nova mudança, entretanto, tem esbarrado em resistência dos técnicos.O secretário tomou a iniciativa de pedir no início do ano à presidente do Inmetro, Ângela Flores Furtado, uma manifestação da autarquia sobre o assunto, mas essa teria sido desfavorável a mais uma substituição dos plugues e tomadas no Brasil.

Ao apresentar essa análise para Costa, no gabinete do secretário no Ministério da Economia, Ângela recebeu tamanha bronca a ponto de ter sido percebida nas salas vizinhas. Depois, a presidente do Inmetro assinou uma nota técnica em que ratifica a segurança do padrão brasileiro, mas considera “tecnicamente viável a disponibilidade de outro padrão internacional de tomada”.

“Hoje existem no mundo 110 diferentes configurações de padrões adotados. Flexibilizar a adoção de outro padrão de tomada preferido pelo consumidor, de acordo com a melhor aderência aos plugues de seus equipamentos eletroeletrônicos, pode ser considerado”. Ângela Flores Furtado, presidente do Inmetro.

Um entrave na mudança é a necessidade de se convocar um encontro do Conmetro, colegiado com nove ministros, para referendar a mudança. Reunião essa que seria sinal de que os ministros perdem tempo com discussões pouco importantes.

Mas Costa insiste que a pauta trata-se de uma medida com potencial impacto sobre a produtividade, já que a tomada de três pinos dificulta a entrada de equipamentos elétricos importados e aumenta os custos de adaptação. De acordo com ele, apenas 20% das tomadas de dois pinos foram efetivamente trocadas.

O secretário descarta, porém, uma volta compulsória ao padrão anterior e prefere flexibilizar o atual – ou adotar um terceiro, compatível com os dois anteriores e com outros modelos já existentes no exterior. “O nosso é único no mundo”, afirma. Vale lembrar, existem 110 diferentes configurações no mundo, não há um padrão único. E o brasileiro é semelhante ao suíço.

Próximos alvos

Autor, como deputado, de uma PEC que estabelece a impressão de um recibo do voto, o presidente já contestou a confiabilidade das urnas eletrônicas em diversas ocasiões. Durante as eleições, chegou a levantar a possibilidade de “fraude” devido ao modelo, usado no Brasil desde a década de 1990.

O novo acordo ortográfico completou 10 anos no início deste ano. A padronização de tomadas ao modelo de 3 pinos começou em 2000, mas apenas em 2011 a venda de aparelhos com 3 plugues tornou-se obrigatória.