Por Osvaldo Pife
Entrei num boteco pelas bandas do Recife Velho. Pedi uma cachaça, qualquer uma, contanto que viesse com uma frutinha no palito. Não para tirar o gosto.
Depois de um tempo de teimosia, como qualquer biriteiro de vergonha, relutei ir ao banheiro. Simplesmente para dizer: se eu for a primeira vez… Mas fui.
Fazia tempo que eu não mijava ao largo, às alturas, no mato, mirando a bimba ao horizonte, feito um menino molhando a rua em zig-zag, fazendo do mijo um pincel nos contornos do número oito.
Quando me deparei com o mictório inglês, senti que poderia fazer a diferença. Há décadas que mijo com a bimba voltada para baixo, em obediência aos tempos modernos de privadas baixas. Não me lembro das mijadas nas paredes, nos cantos de parede, nos arredores da igreja. Naquele banheiro, senti-me majestoso e orgulhoso. Ajeitei as pernas, abri a braguilha, tirei o pinto, mirei a parede inglesa, fiz uma forcinha básica na respiração (a próstata regiu bem) e, com o polegar e o apontador, deixei meu companheiro em posição ideal para a manobra. Acertei no vácuo, livre, como alguém feliz que corre pelas veredas da vida, livrando-se dos seus ais. O mijo não atingiu a altura nem a velocidade dos meus vinte anos, mas confesso, fazia tempo que meu pinto não tinha tanta liberdade em mijar.
Voltei à mesa, onde meu copo de cerveja ainda estava a meio, e sorri um riso feliz e interno. A minha companheira percebeu meu semblante diferente, mas não deu uma palavra. Virei o resto da cerveja num gole insano.