8 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Economia

A ilusão de um Black Friday, à meia-noite em um supermercado

Data deve movimentar R$ 3,27 bilhões, literalmente ao custo do consumidor

Este que vos escreve mora ao lado de um supermercado de Maceió. Este estabelecimento anunciou que abriria as portas à meia-noite para  a promoção do Black Friday. “Ofertas que você não pode perder”. Como as que acontecem no comércio de todo o Estado e Brasil nesta sexta-feira (23).

Mesmo sem os preços anunciados previamente, meu único esforço seria atravessar a rua, ainda que à meia-noite, para checar as ofertas. Claro, as portas estavam lotadas. Dezenas de pessoas munidas com carrinhos e esperança de enchê-los com produtos em oferta.

Não vou negar: a experiência foi divertida. Uma porta distante abriu primeiro, quem se deparou com a fechada começou a bater para que abrissem. Sem sucesso, todos correram para o acesso livre, alguns com seus carrinhos, e após o engarrafamento na esteira rolante, a graça acabou.

Havia um DJ e show de luzes. Pessoas empolgadas enchendo seus carrinhos… e promoção pra valer, que justificasse uma abertura à meia noite, não existia. Comecei a rir ao andar e não encontrar itens com preços em conta. Pior: algumas promoção eram piores que anteriores. Insisto que moro do lado do mercado e reconheço seu preço costumeiro. E aquilo não era promoção.

Meu limite foi ver uma senhora, feliz da vida, enchendo o carrinho dela com uma dúzia de garrafas PET de 2 litros de Guaraná Antártica. Preço anunciado: R$5,60. Exatamente o mesmo preço de quase todo o mês de novembro.

Ela não levou uma promoção, e sim uma ilusão. A música, o ambiente, a sugestão da manada da meia noite sedenta por compras anulou a lógica de alguns consumidores que acreditavam mesmo estar levando vantagem.

A vontade de fazer o que a multidão também está fazendo, aliada à urgência de um evento que só ocorre uma vez ao ano, fez com que muita gente seguisse o grupo, de maneira irracional até.

Enquanto eu saía, passei pelos eletrônicos novamente. Alguns preços não estavam ruins. Algumas promoções eram realmente interessantes, mas nada que se comparasse com um costumeiro saldão de 48 horas, realizado vez ou outra pelo mercado. Alguns celulares mesmo, especificações péssimas, vendidos por um valor bem acima do que mereciam.

Ainda assim, vários carrinhos estavam cheio de caixas de Smart TVs de mais de 55″ polegadas. Ou cheios de sugestão e ilusão. Voltei de mãos vazias. O comércio deu uma animada, o dinheiro em tempo de crise foi movimentado. Em todo o Brasil, essa data deve girar R$ 3,27 bilhões.

Mas à que custo? Definitivamente, não ao preço de “Black Friday”.

Black Friday

Na penúltima sexta-feira de novembro, logo após o dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, data em que os americanos dão mais importância até mesmo que o Natal, acontece a Black Friday (sexta-feira negra), com promoções insanas no comércio. Uma tradição que alguns anos atrás chegou no Brasil.

Mas não com promoções pra lá de discutíveis.

O Brasil é um país caro. Além dos impostos exorbitantes, o dólar a quase quatro reais impede que o consumidor encontre uma Smart TV 4k de 55″ por R$ 1.500,00, mas ninguém diz que a ilusão não pode acontecer.

Seja por sugestão ou mesmo maquiagem. Às vezes o que não é promoção nem digna de um dia, é prorrogada para uma ilusória “Black Week” (Semana) ou “Black Month” (Mês).

Sites de pesquisa de preço, como o BuscaPé e Zoom permitem que qualquer consumidor cheque o preço de produtos, não só comparado com outras lojas, mas também seu custo meses atrás.

E quem pesquisa pode ver que esta variação de preços impede mostrar que os produtos que interessam pra valer estejam em promoção digna. Muitas vezes, o preço na Black Friday é o mesmo de 4 meses atrás.

A promoção acontece, comumente, com o aumento do preço no início do mês, para valer a promoção. Como o Procon Maceió mostrou, com evidências do “metade do dobro”.

Justo, muitos produtos estão com preços “inacreditáveis”, mas tem aquele porém: são os de menores valor, que o consumidor acaba casando com outras coisas, como um fogão ou geladeira que, até pouco tempo atrás, estava exatamente com aquele preço.

É preciso abrir o olho. E comprar se realmente quer. Não pela sugestão de uma “Black Friday”.