21 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Amazônia sai como grande perdedora da fusão de Agricultra com Ambiente

Especialistas apontam que volta do desmatamento seria um desastre em escala global

Chamado por estrangeiros de Trump dos Trópicos, o presidente eleito Jair Bolsonaro alarmou cientistas de fora do país ao confirmar a fusão dos Ministérios da Agricultura e Meio Ambiente. E o motivo é simples: o Brasil abriga a maior floresta tropical do mundo, dois terços do total, e sua maior ameaça em território nacional é o desmatamento para expandir a agropecuária.

Madeira, gado, soja. Esse tem sido o cardápio de exploração econômica da Amazônia até agora, com perdas significativas de cobertura florestal ao longo das décadas.

Pautas ambientais de vários setores industriais, como os da química e mineração, vão se somar às próprias da agricultura.

A retórica é de que é preciso derrubar a Amazônia para produzir riqueza. E o desmatamento acontecia de forma desenfreada antes mesmo desta mudança.

Entre 2000 e 2012, a agropecuária foi responsável por metade do desmatamento ilegal nos países tropicais. No Brasil, até 90% da derrubada ilegal da floresta neste período ocorreu para dar lugar ao gado e à soja. E isso pode piorar, pois ONGs como o Greenpeace e o World Wildlife Fund (WWF) já foram avisados pelo próximo presidente: Suas ações de defesa ambiental serão dificultadas.

“Seu plano imprudente de industrializar a Amazônia com agronegócio e mineração trará uma destruição sem precedentes para a maior floresta tropical do Planeta. E os especialistas veem isso como receita do desastre no clima global”, apontou Christian Poirier, do Amazon Watch (Observação da Amazônia). E ele completa: “Bolsonaro é a pior coisa que já aconteceu ao meio ambiente”.

O próximo presidente havia repensado desta ideia na semana antes da eleição, mas prosseguiu com sua ideia original de unir as pastas. Vale lembrar que da mesma forma ele havia prometido e recuado de retirar o Brasil do Acordo de Paris, que tem uma série de metas para reduzir o desmatamento e aquecimento global.

Genevieve Guenther, que fundou o EndClimateSilence.org vai além: ele chama essas medidas de “suicídio planetário”. No seu Twitter ela alerta: “Isso garante que o Brasil não fará nada para impedir a poluição ambiental e uma grande quantidade da floresta será devastada”. Guenther encerra citando Aquele que Bolsonaro tanto fala, mas parece não seguir: “Que Deus tenha piedade de nós”

Pulmão

Ocupando 3,7 milhões de quilômetros quadrados, as plantas da Amazônia sugam dióxido de carbono (CO²) da atmosfera em seu desenvolvimento: elas absorvem o carbono e liberam oxigênio para o planeta. A floresta, literalmente, retira um gás tóxico e responsável pelo efeito estufa e devolve ar respirável.

Além de ser considerada o pulmão do Planeta Terra, hoje a Amazônia é responsável por 1/6 do CO² armazenado em plantas. Reduzir seu alcance seria trágico, já que o dióxido de carbono precisa ser eliminado para evitar o efeito estufa. E nosso planeta já passa por um aquecimento global sem controle: em todos os anos, a temperatura média bate recordes.

E vale lembrar: o solo da Amazônia é ruim para o plantio. Ela consegue se sustentar por grande quantidade, com plantas se ajudando a se manter. Uma vez desmatada, uma área seria dificilmente reflorestada. Portanto, quando forem se arrepender de abrir território para os agropecuaristas e áreas para o gado, terá sido tarde demais.

Brasil

A fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente não é consenso nem mesmo no setor do agronegócio. Para alguns, essa união vai trazer para a agricultura problemas específicos da área ambiental que não devem ser tratados no setor agrícola.

“É um equívoco”. Essa é a avaliação do deputado Arnaldo Jardim (PPS/SP), ex-secretário de Agricultura do estado de São Paulo e há anos engajado no setor do agronegócio.

“Trazer o Ministério do Meio Ambiente para o âmbito da agricultura é deixar de ter o foco onde ele precisa estar: nos centros urbanos. A agricultura tem suas regras ambientais e um dos exemplos é que, cada vez mais, gera energia limpa para o país, afirma.

Já o presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), Antonio Galvan, concorda com a união. “A questão ambiental virou ideologia interna, que tenta atrapalhar nosso trabalho.”

Marina Silva, derrotada nestas eleições, reagiu quase que simultaneamente à fusão:

Ela foi ex-ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, no governo Lula (PT). Entre 1991 e 2000, com desmatamento desenfreado, uma mais de 500 mil km² foram desmatados. É uma área do tamanho da Espanha, um pouco menor que Estado da Bahia. E depois de um período de defesa não só ao meio ambiente, mas até mesmo a humanidade, o mundo terá uma imensa perda. Graças ao novo governo brasileiro.