6 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Antecipando manifestações, Bolsonaro liga servidores públicos à esquerda

Sindicatos e associações articulam uma grande mobilização a partir de março contra congelamento de salários

O presidente Jair Bolsonaro publicou em suas redes sociais um vídeo em que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirma que os concursos públicos no Brasil selecionam pessoas com viés político de esquerda.

O ministro Weintraub critica na peça a falta, segundo ele, de perguntas sobre matemática e conteúdo sobre outros países. Segundo ele, isso facilitaria a seleção de pessoas com viés de esquerda nos concursos.

Bolsonaro, em sua postagem no Facebook, se atenta à “interpretação” da ditadura militar. Na postagem, o presidente escreveu “doutrinação e mentiras até nos concursos”. “Caso fosse perguntado numa prova: após a saída de João Goulart, em 1964, quem assumiu a presidência da república? Qual sua resposta?”.

Este já seria o início de uma campanha estratégica de Bolsonaro para jogar seus seguidores e apoiadores contra os servidores públicos. Isso porque depois da concessão de reajustes para policiais do Distrito Federal, cujos salários são bancados com dinheiro da União, outras categorias do funcionalismo federal passaram a fazer pressão por aumentos na sua remuneração.

Mobilização em março

Sindicatos e associações de classes como policiais federais articulam uma grande mobilização a partir de março contra o congelamento de salários. A equipe econômica não vê espaço no Orçamento para ampliar as remunerações, mas admite nos bastidores que a pressão virá e será necessário mostrar à ala política do governo que não há folga fiscal para negociação.

No Orçamento de 2020, apenas os militares das Forças Armadas foram contemplados com reajustes salariais e criação de novas vantagens, a um custo de R$ 4,7 bilhões adicionais neste ano.

Os últimos reajustes foram aprovados pelo Congresso Nacional entre 2016 e 2017. As carreiras com menores salários negociaram aumentos por dois anos, sendo que a última parcela entrou em vigor no início de 2017.

Já as carreiras de estado, com maiores salários e consideradas a elite do serviço público, como auditores da Receita e servidores do Banco Central, garantiram reajustes por quatro anos, concedidos paulatinamente até 2019.

Militares agraciados por Bolsonaro em sua postagem no Facebook, ao mesmo tempo que em servidores são acusados de serem o grande vilão do momento, segundo o atual governo: agentes de esquerda e seu perigoso viés ideológico.

Sem raciocínio

Não é o único vídeo em que Weintraub atacaca a ‘ideologia de esquerda’ na educação. Em vídeo também deste final de semana, ele ciriticou os livros do ensino básico utilizados em gestões passadas no MEC.

Segundo ele, há um foco desnecessário em ‘ideologia de gênero’. E para o ministro da Educação, os alunos precisam apenas aprender matemática e ciências. Raciocinar ou incentivar pensamento, aparentemente, é coisa de esquerda.