19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

“Apartidário”, MBL já cogita criar partido

Movimento que ganhou visibilidade no impeachment de Dilma tem 4 deputados e 2 senadores eleitos

Quando anunciou sua intenção de disputar a presidência da Câmara em 2019, algo inconstitucional para menores de 35 anos, o deputado eleito Kim Kataguiri, 22, deu o recado para seu partido DEM, também de Rodrigo Maia. “Meu partido é o MBL”, afirmou em entrevista à Folha.

O Movimento Brasil Livre, que cresceu nas ruas após a queda de Dilma, emplacou quatro deputados federais e dois senadores na próxima legislatura, mas não pode se chamar de partido. Ainda.

Dirigentes do MBL: Kim Kataguiri (óculos esquerda), Arthur do Val (centro) e Fernando Holiday (direita)

Com as urnas apuradas, o grupo liderado por homens na casa dos 20 ou 30 anos contabilizou sua bancada, quase toda de apoiadores do MBL. No Senado, Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Pros-CE). Na Câmara, além de Kim, Zé Mario (DEM-GO), Jerônimo Goergen (PP-RS) e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), este o representante de Silas Malafaia em Brasília.

Três coordenadores viraram políticos de carreira, todos pelo DEM: Fernando Holiday foi eleito vereador de São Paulo em 2016, e em outubro conquistaram mandato Kim e Arthur do Val, 32, o Mamãe Falei. Val ficou criou rixa com Ciro Gomes após acusá-lo de receber um tapa. Ciro disse que apenas devolveu: “Deixa de ser um merda, rapaz”.

Agora o MBL estuda ter uma sigla. Passado o primeiro turno, eles deliberadamente ficaram offline. O núcleo duro do MBL se reuniu num sítio próximo a Jundiaí (SP), sem sinal de internet, com uma única intenção: “Repensar e analisar nossas estratégias até aqui, tendo em vista o resultado das eleições”, afirma Holiday.

A ideia inicial era “ser uma nuvem além dos partidos”, mas hoje eles debatem se ter uma sigla própria é melhor. “As pessoas gostam de identificar seus ideais com um número”, do 17 de Jair Bolsonaro ao 13 do PT, diz o vereador.

Começar um partido do zero “é nossa última opção”, mas não descartada de antemão.

A alternativa mais viável, segundo Kim, seria adotar “uma legenda que já exista, mas tenha morrido por causa da cláusula de barreira”.

De qualquer forma, apesar de insistentemente afirmarem ser apartidários, este movimento era o esperado.

Mas não deixa de ser perigoso: abastecidos por um ódio visceral ao PT, alimentando factoides, mentiras e ojeriza à defesa de minorias (eles acreditam na ‘cura gay’), o futuro promete mais surpresas ao Brasil além das eleições deste ano.