8 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Alagoas

Após 48 anos, TV de Collor perderá contrato com a Globo em Alagoas

Já é de entendimento do STF que TV Gazeta foi usada em esquema de corrupção do ex-presidente

Foram quase 50 anos de parceria, mas que finalmente deve chegar ao fim: a TV Gazeta de Alagoas, de propriedade do grupo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, deverá deixar de ser parceira da Globo em Alagoas.

Enfrentando dificuldades financeiras, a TV local foi usada como um dos esquemas de corrupção do ex-presidente e, recentemente, ex-senador, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal. O mesmo STF, aliás, já condenou Collor há mais de 8 anos de prisão.

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A nova parceira da Globo em Alagoas deve ser uma TV comandada pelo Grupo Nordeste de Comunicação, que tem como acionista principal Vicente Jorge Espíndola. O grupo já é dono da TV Asa Branca de Caruaru, cidade do agreste de Pernambuco, e afiliada da Globo desde 1991.

A TV do grupo já vem operando em fase de testes em um prédio comprado no bairro do Farol, zona nobre de Maceió. O transmissor já foi instalado e os testes começaram na última segunda-feira (23).

A expectativa é que, com todos os testes dando certo e o prédio em plenas condições de funcionamento, a troca de emissoras da Globo em Alagoas venha a acontecer no primeiro semestre de 2024.

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Grupo Arnon de Mello

Collor é acionista majoritário das Organizações Arnon de Mello, maior conglomerado de mídia do estado, do qual a TV Gazeta de Alagoas faz parte. A emissora é parceira da Globo desde sua fundação, em 1975. Em 2019, a emissora entrou em recuperação judicial ao alegar dívidas de R$ 284 milhões.

Além disso, uma greve de funcionários que durou quase duas semanas e um pedido de cassação pelo MPF (Ministério Público Federal) fizeram a TV Gazeta entrar no noticiário político.

Na épora, a Justiça Federal em Alagoas (JFAL) já determinou o cancelamento da concessão, permissão ou autorização do serviço de radiodifusão sonora ou de sons e imagens outorgado à TV Gazeta de Alagoas Ltda, à Radio Clube de Alagoas Ltda e à Radio Gazeta de Alagoas Ltda.

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A medida atende às razões apresentadas em Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas, devido à participação de um senador da República, Fernando Collor de Mello, no quadro societário dessas empresas.

Em maio deste ano, o senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL), principal acionista das empresas da família Collor, teve detalhada no UOL, pelo jornalista Carlos Madeiro, dívidas de R$ 284 milhões com a União.

A reportagem mencionou a predileção do ex-presidente por mansões, obras de arte e carros de luxo em contraste com as dívidas, sendo que 95% desse valor milionário são em duas firmas do grupo: a TV Gazeta de Alagoas e o jornal Gazeta de Alagoas, ambos citados na ação penal contra Collor.

A OAM (Organização Arnon de Mello), que reúne um grupo das empresas que usam o nome Gazeta, tem grande parte de suas dívidas de R$ 147 milhões em Imposto de Renda, PIS, Cofins e multas, além de direitos trabalhistas não pagos a ex-funcionários. São 173 ações na Justiça do Trabalho.

Um dossiê relatando a drástica queda da qualidade do jornalismo da TV Gazeta de Alagoas, bem como a incompatibilidade de convivência dos profissionais com os desmandos administrativos dentro da emissora, foi entregue a direção da Rede Globo de Televisão. O documento pedia a intervenção na afiliada de Maceió.