3 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
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Aposentadoria: sistema de capitalização sustenta investidores e penaliza trabalhador

A forma de poupança para a aposentadoria pode deixar os mais pobres sem nada.

A discussão em torno da reforma da previdência comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, tem como base central a capitalização, que se configura em uma poupança a ser feita pelos trabalhadores para o direito à aposentadoria.

Quer dizer, cada trabalhador terá que guardar um determinado percentual do que recebe para a sua aposentadoria. Esse percentual a ser administrado pelo governo tende a reforçar os caixas dos bancos e fundos de pensões, para a alegria geral do badalado “mercado”.

São exatamente os grandes investidores desse mercado que vão ganhar dinheiro com os investimentos, nesse caso, originários das contribuições previdenciárias. Eles ganham e o trabalhador comum que desconta para uma possível poupança só assiste à festa alheia.

Em síntese, o sistema é muito bom para os que vivem ganhando comissões e propinas no mercado financeiro. O ministro da economia sabe muito bem disso por que é um homem desse mercado, patrocinado pelos banqueiros do País.

No Chile, a vida do aposentado.

Obviamente que a capitalização previdenciária vai aumentar a poupança na rede bancária ou o capital de giro dos fundos. Vão também alimentar projetos e projetos dos investidores do capital alheio que, normalmente, alegam que trabalham pelo desenvolvimento do País. E aí ganha quem agencia, quem contrata e quem fica aguardando o lucro dessa roda financeira.

Enquanto isso, o trabalhador mais pobre segue poupando… Toda uma vida

O pior é que o sistema proposto não garante que o trabalhador tenha sua aposentadoria tranquila ao final de 35 ou 45 anos de trabalho. As marolas e as tempestades da economia conspiram contra. Contra a estabilidade de emprego, contra os salários e contra a capacidade do próprio trabalhador atingir a meta da capitalização para ter sua aposentadoria.

O modelo que o senhor Paulo Guedes trouxe para o Brasil é o do Chile, que foi o primeiro País do mundo a implantar o sistema de capitalização, ainda nos anos 80. O que acontece lá?

Pois bem. Dados do próprio governo chileno revelaram que em 2017 o quadro era de absoluto fracasso. Os números: 9 em cada 10 beneficiários recebiam um valor inferior a 56% do salário mínimo. Imagine o cidadão se aposentar recebendo apenas 50% do salário mínimo…

Isso aconteceu exatamente por que os trabalhadores não conseguiram receita suficiente para atingir a meta da aposentadoria digna ao final de sua vida laboral. Há um detalhe: lá os trabalhadores não têm contribuição patronal, o que agrava a situação.

Resultado disso? O Chile tem hoje o maior índice de suicídios de aposentados do mundo.

Que suas excelências tenham clareza e bom senso nessa discussão da reforma previdenciária brasileira.