8 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro ataca vacinação, diz que vírus iria matar mesmo e revela ‘dor no coração’ por Daniel Silveira

Discursando no Dia Internacional Contra a Corrupção, presidente associou pandemia com guerra e que povo não pode ser covarde apesar de morte entre familiares

Em seu discurso no durante evento realizado em Brasília para simbolizar o Dia Internacional Contra a Corrupção, o presidente Jair Bolsonaro ligou sua metralhadora e atirou para todos os lados. Alguns destes tiros, até mesmo no próprio pé.

Entre os temas tratados pelo presidente estavam a defesa da liberdade, no que implicou ataques ao STF, ofensas aos ex-aliados Moro e Doaria, além de mais um ataque à vacinação contra Covid-19 e membros da CPI da Pandemia. Como não quis ficar só no ataque, falou com dor no coração do aliado Daniel Silveira.

Daniel Silveira

Criticando Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente defendeu a liberdade e todos os que foram presos por sua “liberdade de expressão”, em especial o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ).

O marmanjo bolsonarista ficou preso por sete meses depois de publicar nas redes sociais vídeo com mensagens ofensivas e intimidatórias contra o ministro Edson Fachin.

“Doeu no coração ver um colega preso. Temos aqui um parlamentar que ficou sete meses preso. Se coloquem no lugar dele. Mas o que fazer? Será que queriam que eu tomasse medidas extremadas? Como é que ficaria o Brasil perante o mundo? Possíveis barreiras comerciais, problemas internos”. Jair Bolsonaro.

Daniel Silveira, já livre, estava presente no evento e foi agraciado com o presidente querendo se colocar em seu lugar. Para outras pessoas que morrem na pandemia que ele nega até hoje, sobram frases de desdém e puro ódio, como “e daí” ou “não sou coveiro”.

Pandemia

Com mais um pedido de impeachment nas costas, por causa de sua atuação durante esta pandemia, Bolsonaro chamou de figuras impolutas” os congressistas Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM), relator e presidente do colegiado, respectivamente, além de Randolfe Rodrigues, propositor da comissão.

“Que relatório é esse? O que eles fizeram ao longo de seis meses? Inclusive, o presidente da CPI falou: não vamos apurar desvio de recursos. Vai para a ponta da praia, pô”. Jair Bolsonaro.

O presidente, que até hoje luta contra a vacinação e medidas sanitárias de contenção ao coronavírus, bateu de frente contra a Anvisa e não adotou o passaporte sanitário: uma medida simples, em que o viajante precisaria apresentar seu comprovante de vacinação.

A vacina é segura, gratuita e ajuda a conter a pandemia. Bolsonaro preferiu defender a libertinagem dos poucos que não colaboram com a sociedade e criticou o governo de São Paulo pela pretensão de apresentar o passaporte de vacina:

“Governador aqui da região Sudeste quer fazer o contrário. E ele ameaça: ninguém vai entrar no meu estado [se não estiver vacinado]. Teu estado é o cacete, porra”! Jair Bolsonaro.

Bolsonaro vai além e pede pela ajuda de seu gado negacionista, que segundo a desafeta Sarah Winter (que assim como muitos outros, se afastou do presidente) diz que se ele mandar comer merda, o fazem. E nesta pandemia, pede para o povo lutar contra o passaporte da vacinação, uma medida incrivelmente simples de ser seguida:

“Nós todos temos que reagir. E reagir como? Protestando contra isso. Ah, o povo é soberano… Todo poder emana do povo. Não é bem assim que a banda toca, pessoal”. Jair Bolsonaro.

Confundido a liberdade individual com a necessidade coletiva, o presidente olhou mais uma vez para o próprio umbigo e diz que, segundo ele, não se vacinou por ser um direito dele:

“Queriam que a gente impusesse aqui a obrigação do cartão vacinal. Como eu posso aceitar o aceitar o cartão vacinal se eu não tomei vacina e é um direito meu de não tomar? Como é o direito de qualquer um aqui”. Jair Bolsonaro.

E de maneira repulsiva (e burra), segue contra outras medidas de contenção, ligando o “foda-se” dizendo que o vírus mataria de qualquer maneira e que não é se escondendo que se vai pra guerra:

“Talvez eu tenha sido um dos raros chefes de estado no mundo que foi contra essas políticas de lockdown e toque de recolher. Falaram muita coisa de mim, do ensinamento que eu tive, da minha profissão, militar… Um soldado dentro da trincheira não vai ganhar guerra, vai morrer como um rato. Vírus mata? Mata. Duvido quem não tenha parente ou amigo que morreu por causa do vírus. Mas tem que lutar, poxa”. Jair Bolsonaro.

Moro

Com medo de perder sua vaga no 2º turno de maneira vexatória, Bolsonaro diminuiu os ataques a Lula, que em todas as pesquisas tem ampla vantagem, o presidente vem atacando o ex-juiz Sergio Moro, seu ex-ministro da Justiça. E hoje não foi diferente:

“Mesmo com toda liberdade, nunca mostrou serviço, a não ser fazer intrigas. A PRF (Polícia Rodoviária Federal) nunca teve tanta produtividade depois que ele saiu. Desde que saiu, não só a PF [Polícia Federal], como também a PRF, triplicaram as apreensões de drogas”. Jair Bolsonaro.

Ainda incomodado de ter sido acusado de interferir na PF por seu ex-ministro, o presidente lembrou ainda o caso da reunião interministerial, divulgada no ano passado:

“Eu poderia ter destruído o pendrive. Mas ia ficar sobre mim a pecha de que teria interferido na PF. Mostramos e entregamos a íntegra. Pedimos que 30 segundos não fossem divulgados porque era realmente um segredo de Estado”. Jair Bolsonaro.

Corrupção

O tema hoje era corrupção, mas o presidente preferiu falar dos aliados que foram presos após fazer ameaças e pedir que o povo continue lutando contra a vacinação.

Curiosamente, na segunda-feira (6), o presidente disse no cercadinho que não é possível afirmar a inexistência de corrupção em seu governo.

“Não vou dizer que meu governo não tem corrupção, porque a gente não sabe. Qualquer caso identificado seria investigado, mas não dá pra dar conta de mais de 20 mil servidores comissionados, ministérios com mais de 300 mil funcionários. A grande maioria são pessoas honestas”. Jair Bolsonaro.

Este, claro, é um contraste gritante do presidente, que até pouco tempo, negava com veemência a existência de corrupção em seu governo. Era algo inclusive comemorado e alardeado com orgulho. Assim como ele terminar com o toma lá da cá, mamatas e jogo político com o centrão. A verdade, de fato, nunca foi o forte de Bolsonaro.