19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Bolsonaro recebeu dinheiro vivo com venda ilegal de joias, afirma PF

Bolsonaro levou joias para os EUA no avião presidencial enquanto fugia no seu penúltimo dia de governo

A Polícia Federal afirma que os recursos gerados com a venda de joias dadas de presente ao governo brasileiro eram repassados para o ex-presidente Jair Bolsonaro em dinheiro vivo.

Em nova operação deflagrada nesta sexta-feira, para aprofundar a investigação de um esquema de desvio e venda no exterior dos bens dados de presente a Bolsonaro em missões oficiais, foram alvos de busca e apreensão o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, o assessor Osmar Crivelatti e o próprio Mauro Cid.

Uma caixa de joias doadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela Arábia Saudita foi colocado à venda por uma loja de artigos de luxo de Nova York, nos Estados Unidos, no começo deste ano.

Investigação da Polícia Federal indica que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe dos ajudantes de ordem de Bolsonaro, participou da tentativa de venda da caixa com joias e relógio da grife Chopard.

Encontro Mohammed bin Salman, Príncipe Herdeiro do Reino da Arábia Saudita.
Foto: José Dias/PR

Os itens aparecem como destaque no catálogo de dias dos namorados da Fortuna Auction, publicado em 30 de janeiro, com preço estimado de US$ 120 mil a US$ 140 mil, ou seja, de cerca de R$ 611 mil a R$ 713 mil, conforme a cotação da época. O leilão começou no começo de fevereiro.

O nome da operação da PF desta sexta, “Lucas 12:2”, é uma alusão ao versículo 12:2 que diz: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”.

“Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”. Trecho da investigação da PF citado na decisão do ministro Alexandre de Moraes.

A PF também encontrou, em diálogos obtidos no celular de Mauro Cid, conversas a respeito da entrega de dinheiro vivo a Jair Bolsonaro. Em uma das mensagens, Cid afirmou:

“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele ´ne? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”.

Nos diálogos, Cid conversa com um outro assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, sobre as restrições existentes a respeito da venda dos bens no exterior. O gabinete de documentação da Presidência havia informado que era necessário registrar oficialmente a doação do bem ao governo brasileiro e que a venda no exterior também precisaria ser comunicada.

Por isso, Câmara diz a Cid que desistiu de vender um determinado bem nos Estados Unidos e que sua ideia seria leiloar no Brasil posteriormente. Cid responde por mensagem de texto: “Só dá pena porque estamos falando de 120 mil dólares. Hahahahha”. Câmara diz, então: “O problema é depois justificar e para onde foi”.

Força Aérea

Os indícios envolvendo Jair Bolsonaro no esquema também apontam que as joias foram levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aeronave da Força Aérea Brasileira, enquanto ele ainda ocupava o cargo.

As investigações da Polícia Federal identificaram que o ex-presidente e auxiliares retiraram do país, no avião presidencial, pelo menos quatro conjuntos de bens recebidos pelo ex-presidente em viagens internacionais, na condição de chefe de Estado.

A viagem ocorreu em 30 de dezembro, véspera de seu último dia de mandato, para assim evitar seguir o rito democrático de passar a faixa a seu sucessor eleito, o hoje presidente Lula (PT).

Na sequência, uma vez nos EUA, afirma ainda o documento assido por Moraes, “os referidos bens teriam sido encaminhados para lojas especializadas em venda e em leilão de objetos e joias de alto valor, situadas nas cidades de Miami/FL, Nova Iorque/NY e Willow Grove/PA”.