19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Economia

Cai 13,4% volume de famílias sem condições de pagarem suas dívidas

Já nas famílias com renda acima de 10 salários mínimos, a pesquisa do Instituto Fecomércio observou um aumento de 20% no nível de superendividamento

Passados os embalos dos festejos juninos, o mês de junho pode ter deixado, para algumas pessoas, um pouco mais do que boas lembranças: dívidas.

Em julho, o endividamento das famílias alagoanas aumentou 4% e a inadimplência subiu 4,4%, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Alagoas (Fecomércio AL), por meio do Instituto Fecomércio AL e em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Com o aumento do endividamento geral, a consequência foi a redução nos subíndices que compõem este indicador. Na variação mensal, este comportamento foi registrado nos marcadores de famílias não endividadas, saindo de 33% em junho para 30,2% de julho; e de famílias com poucas dívidas, que recuou de 27% para 26,3% nestes meses. A boa notícia é a redução de -13,4% no volume de famílias que não terão como pagar suas dívidas, entre junho e julho. Porém, na variação anual houve aumento de 43,6% neste indicador.

Outro dado positivo trazido pela pesquisa é a redução, na comparação mensal, de 2 pontos percentuais (p.p) no total das famílias muito endividadas. “Esta redução dos muitos endividados ocorreu exatamente nas famílias de renda mais baixa. Já entre as famílias com renda acima de 10 salários mínimos (SM), a pesquisa observou um aumento de 20% no nível de superendividamento”, analisa o economista.

Em valores absolutos, Alagoas tem cerca de 700 mil famílias endividadas. Vale lembrar que o endividamento não é um indicador negativo, pois reflete parte da dinâmica econômica e, quando dentro da margem considerada saudável pelos especialistas, não compromete o orçamento familiar.

 

Inadimplência

O volume famílias endividadas com contas em atraso teve um incremento de 4,4%, em julho. Por ser uma taxa maior que a taxa total dos envidados, sinaliza que o fôlego para o consumo pode estar reduzindo. A pesquisa ainda aponta que, dentre os inadimplentes, 37,9% já estavam com dívidas atrasadas acima de 90 dias, sendo a totalidade composta por famílias de menor renda.

O percentual dos consumidores que possuem mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas aumentou em 0,5 p.p., representando 1,6% dos endividados de julho, volume baixo para o total das famílias com dívidas. No geral, a média de atraso é de 66 dias e o tempo de comprometimento do orçamento com dívidas é de 31 semanas.

No contexto econômico atual, é possível que o aumento das dívidas em atraso seja um reflexo do alto custo do crédito e do relaxamento no controle financeiro do consumidor após a renegociação de dívidas antigas com o Programa Desenrola. Isto porque com o Desenrola e a perspectiva, nos meses passados, de que haveria redução dos juros, é provável que o consumidor tenha voltando a se endividar e, com o crédito mais caro, os pagamentos passaram a ser atrasados.

“Outro fator que pode ter influenciado nesta dinâmica é a condição do emprego em Alagoas, que apresentou uma redução de 3% no estoque nos primeiros cinco meses de 2024 e está impactando negativamente no orçamento das famílias”, observa Rosário.

No comparativo anual, apesar da redução na realização de dívidas via cartão de crédito, esta modalidade continua sendo a maior fonte de endividamento (97,3%), seguidos pelos carnês, que continuam absorvendo uma parcela significativa do crédito para as famílias de renda mais baixa (20%).

Na análise do economista, é possível perceber que, mesmo com o aumento do endividamento, as famílias estão buscando controlar o tipo e prazo deste endividamento, refletindo as incertezas no emprego e na renda que está caracterizando o ambiente econômico de curto prazo no Brasil. “É interessante notar que os carnês continuam absorvendo uma parcela significativa do crédito para as famílias de renda mais baixa. Mas na comparação anual, o aumento do consumo de duráveis sinaliza que os alagoanos de renda mais alta estão consumindo mais automóveis, residências, além de mobília, eletrodomésticos e serviços para montar essas residências”, observa.