Jornalistas adoram usar de semiótica nas imagens que ilustram seu texto. Ao falar de um personagem, seja ele celebridade, político ou um simples cidadão, o contexto é tudo.
A notícia é sobre corrupção? Por que não usar uma imagem de um momento sonso ou que pareça ele estar sendo pego de surpresa? Se a notícia é boa, por que não colocar os envolvidos com aparência feliz?
Às vezes, isso pode até entregar um pouco dos gostos do diagramador ou qualquer responsável pelo site, tal qual o vândalo que apareceu no Fantástico sendo ilustrado com a barriga de fora, na praia.
E temos então a Folha de São Paulo, que neste 19 de janeiro de 2023, praticamente colocou Lula com a mão no peito, “levando um tiro”, para ilustrar uma notícia sobre ele estar focando miliares no Planalto.
Não há muito o que interpretar:
- A Manchete é sobre militares no Planalto com Lula em foco;
- O presidente aparece com a mão no peito diante de uma vidraça quebrada;
- O vidro trincado lembra muito a perfuração de um tiro;
- A Manchete é sobre militares no Planalto com Lula em foco…
A escolha não foi feliz.
Imagens clássicas
Para quem não entendeu tanto como uma boa imagem pode casar com o texto e contexto em que ela foi tirada, ilustramos aqui dois casos clássicos:
Feita pelo fotógrafo Wilton de Sousa Júnior, da Agência Estado, a foto foi publicada no jornal “O Estado de S.Paulo” em 21 de agosto de 2011 e no dia 31 do mesmo mês na revista “Veja”, que a escolheu como “imagem da semana”.
Poucos anos depois, no mandato seguinte, a presidente Dilma, “trespassada com um golpe nas costas”, sofreu um processo de impeachment por “pedaladas fiscais”. No ano passado, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprovou nesta quinta-feira (22) as contas presidenciais de 2014 e 2015, dois últimos anos do governo Dilma Roussef.
Temos ainda a mais ilustre de todas: o presidente que não sabia se ia ou se ficava. Ele foi o último presidente antes da Ditadura.
Capturada na ponte que liga Uruguaiana (RS) a Libres, na Argentina, em 21 de abril de 1961, quando Jânio se encaminhava para um encontro com o presidente Argentino Arturo Frondizi, a imagem do político brasileiro com as pernas em direções opostas mostra, involuntariamente, o quanto havia de divisão de personalidade em Jânio – e o grau de contradição das forças que então lutavam pelo poder.
Ele renunciaria do cargo meses depois, em 25 de agosto daquele mesmo ano. Três anos depois, o Brasil cairia na Ditadura.