20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Capitão lotado no gabinete da presidência estimula golpe com mentiras em grupos de transmissão

Andriely Cirino usa espaço institucional como central de envio de fake news e conteúdos golpistas

Segundo o The Intercept Brasil, o capitão da ativa do Exército, Andriely Cirino, lotado no gabinete pessoal da Presidência da República e que recebe um salário bruto de R$ 24,4 mil, usa uma lista de transmissão no WhatsApp para divulgar mensagens com conteúdos golpistas.

Ele é mais um que nega o resultado das eleições presidenciais do segundo turno e inflama manifestações antidemocráticas que levantam suspeitas sem sentido contra as urnas eletrônicas. E incentiva um golpe militar.

Cirino enviava material de publicidade do governo aos órgãos oficiais, mas mudou a forma de operar partir do dia 30, após confirmada a vitória de Lula nas eleições. Desse momento em diante, o capitão passou a encaminhar mensagens diárias, com vídeos e fotos das manifestações golpistas pelo Brasil.

“Este link tem que chegar aos 4 cantos do Brasil”, comentou o militar ao enviar o vídeo mentiroso de um argentino sobre as urnas, além de arrematar dizendo que o vídeo traz “dados explícitos sobre as fraudes”.

O mesmo vídeo provocou a suspensão de contas de quem o compartilhou, como deputado federal eleito por Minas Gerais, Nikolas Ferreira, e o ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Major Vitor Hugo, ambos do PL, além de Monark, o podcaster demitido do Flow após defender a criação de um partido nazista no Brasil.

Outro dos vídeos que o capitão repassou inclui uma faixa pedindo “intervenção federal já”. Cirino divulgou ainda uma postagem em que falsamente afirma que o relatório das Forças Armadas sobre as urnas conta tudo o que diversos órgãos tentaram esconder – na verdade, o relatório do Exército confirmou as eleições como limpas.

Ao contrário de Bolsonaro, que desde a derrota nas urnas se recolheu das redes sociais, Cirino inundou seus contatos com mensagens idênticas às encontradas nas manifestações antidemocráticas, buscando frases de efeito como “se perdermos essa guerra, perderemos nossa liberdade”.

Cirino também compartilhou um trecho de um vídeo antigo de Olavo de Carvalho, morto em janeiro deste ano, em que pede a manifestantes para “não parar, não precipitar e não retroceder”. No mesmo corte, o ex-astrólogo diz que as Forças Armadas “certamente vão aderir ao povo”.

Capitão

Desde 2019 (início da gestão Bolsonaro), o militar ocupou diferentes cargos, entre a Secretaria de Comunicação da Presidência, Ministério de Comunicações até ir para o Gabinete de Segurança Institucional, ligado à Presidência.

Foi dele, em maio de 2020, a gravação da famosa reunião ministerial, que culminou com o pedido de demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça, após acusar Bolsonaro de tentar interferir na superintendência da Polícia Federal.

Questionado para dar sua versão na reportagem, ele respondeu uma ligação dizendo que seu telefone é “particular” e que “não iria se responder” aos questionamentos.

“Você me acusou de estar enviando fake news, coisa contra a Constituição, coisa que eu nunca fiz. Você me fez perguntas e eu te ignorei”.

Quando questionado se as mensagens são de iniciativa dele um uma ordem de trabalho do Gabinete da Presidência, ele não respondeu. E pediu para não ser mais procurado, dizendo que não tinha “nada a esconder”, antes de desligar o telefone.

O Gabinete da Presidência não respondeu aos questionamentos.