O general Augusto Heleno teve uma manhã desastrosa enquanto fazia seu depoimento aos deputados e senadores na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do dia 8 de janeiro.
Apesar de possuir o direito de ficar calado e não ter que responder às perguntas, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro não se conteve. E enquanto respondia, mentia e agredia com ofensas os parlamentares críticos do governo anterior.
Enquanto isso, representantes da extrema-direita e demais bolsonaristas, além de bater palmas, faziam questão de defender Heleno.
Em sua declaração inicial, Heleno afirmou nunca ter ido aos acampamentos. “Não por falta de tempo, mas por falta de condições de participar do que realizavam no acampamento que, pelo que sabia, eram atividades extremamente pacíficas e ordeiras. E nunca considerei o acampamento algo que interessasse à segurança institucional. Sempre achei que era uma manifestação política pacífica”, afirmou ele.
A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), no entanto lembrou que “foi do acampamento que surgiu a ideia de montar uma bomba para explodir um caminhão de combustíveis no aeroporto de Brasília. Foi de lá que os vândalos saíram para quebrar a Praça dos Três poderes”
Ele inclusive se irritou com a relatora: “Ela fala coisas que ela acha que estão na minha cabeça. Porra, é pra ficar puto, né? Puta que pariu.”
Contradição
A CPMI do 8 de Janeiro apontou ainda uma contradição do general Augusto Heleno, que declarou nunca ter participado de reunião entre Jair Bolsonaro e chefes das Forças Armadas “para assuntos eleitorais ou político-partidários”.
Ele também tentou desacreditar a delação de Mauro Cid, que afirmou à PF que Bolsonaro discutiu detalhes de uma minuta golpista com a cúpula das Forças Armadas.
Mas uma foto de 2019, que está no Flickr do Palácio do Planalto, mostra o general Heleno, o tenente-coronel Mauro Cid e Jair Bolsonaro ao lado de chefes das Forças Armadas. A imagem contradiz a versão de que Augusto Heleno e Mauro Cid não participavam de reuniões com militares.
Após a CPI exibir a foto, o general Augusto Heleno afirmou que a “imagem fala por mil palavras”. Em resposta, Heleno se corrigiu, afirmando que “Mauro Cid” tá escutando, mas ele não participa, não tem atuação nenhuma.
A foto também contradiz o ex-presidente Jair Bolsonaro, que diz que Cid nunca participou de nenhuma reunião com autoridades ou comandantes das Forças Armadas. “Ele agendava os horários de encontros com chefes de Estado, com ministros, com autoridades, com comandantes da força”.
O presidente da CPI, Arthur Maia (União Brasil-BA), não concordou com a interpretação de contradição:
“Nós temos aqui uma circunstância que eu compreendi que o general disse que participava da reunião quem sentava na mesa e tomava decisões”.Se perguntarmos se o diretor dessa CPMI está participando dessa reunião, claro que ele está. Mas ele pode ter a palavra como vossa excelência acabou de fazer? Ele não pode. Da mesma forma foi a compreensão que eu tive daquela reunião e da fala do general Heleno. Claro que o assessor pode entrar na sala, mas estava visível que o Mauro Cid não estava sentando nas mesmas condições que os ministros, então por isso que a mesa não entende que seja uma inverdade”.