2 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Coronel com alto cargo no governo Bolsonaro empresta conta bancária a Fabrício Queiroz

Segundo The Intercept Brasil, o acusado de operar rachadinhas de Flávio Bolsonaro tem procuração para operar contas bancárias do coronel Washington Luiz Lima Teixeira

Um coronel da reserva do Exército indicado assessor da presidência da Casa da Moeda do Brasil pelos generais do governo Bolsonaro cultiva há duas décadas uma relação de confiança mútua com Fabrício Queiroz, o acusado de operar o esquema milionário das rachadinhas do filho 01, o senador Flávio Bolsonaro, do PL do Rio.

O coronel Washington Luiz Lima Teixeira é o primeiro elo claro entre um militar com cargo no alto escalão do governo Bolsonaro com Queiroz, homem-bomba do clã presidencial.

As relações entre os dois incluem a venda de um imóvel e uma procuração em que o coronel Teixeira deu a Queiroz “amplos poderes” para operar suas contas bancárias pessoais na Caixa.

A revelação é do site The Intercept Brasil, que em uma entrevista com funcionários da Caixa, sob a condição de não terem as identidades reveladas, disseram que o único procedimento necessário em caso de transferência do financiamento seria a aprovação do cadastro de Queiroz no banco.

“Um grupo seleto [de oficiais] dentro da força”, Teixeira, 61 anos, é assessor da presidência da Casa da Moeda desde novembro de 2020. Ali, ganha salário bruto de R$ 22 mil mensais. Ele diz ter sido escolhido diretamente pelo presidente da empresa e vice-almirante da reserva da Marinha, Hugo Cavalcante Nogueira.

Há uma procuração assinada em dezembro de 2009 pelo então coronel da ativa do Exército dando ao então assessor de Flávio Bolsonaro “amplos poderes” para operar suas contas bancárias pessoais. Ela segue válida, a julgar pela ausência de registros de seu cancelamento.

O documento está registrado no 8º Ofício de Notas, Centro do Rio, e torna oficial que o coronel Teixeira e sua mulher, Ana Maria de Medeiros Teixeira, nomearam Queiroz como procurador de ambos “junto e perante a Caixa, em quaisquer de suas agências e departamentos”.

O acordo dá a Queiroz poder para “acompanhar e dar andamento a processo habitacional, podendo abrir, movimentar e liquidar contas, tomar ciência dos despachos, cumprir exigências, juntar e retirar documentos, requerer, recorrer, concordar e ajustar condições do mútuo, pagar taxas de serviços, assinar os contratos necessários, ajustar preços, prometer comprar, comprar”.

O documento confere também a Queiroz o poder de efetuar saques bancários e assinar cheques das contas do coronel Teixeira. Além disso, o então assessor de Flávio ganhou o direito de usar como garantia para empréstimos “o imóvel situado na rua Baronesa”.

Trata-se de um apartamento localizado em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, uma região controlada pela milícia, e que pertencia ao coronel. O imóvel foi vendido a Queiroz em uma transação que, segundo os documentos registrados em cartório, se prolongou por 19 anos e só teve desfecho justamente quando surgiram as primeiras reportagens sobre o escândalo das rachadinhas, em dezembro de 2018.

Atualmente, quem vive no apartamento é a Débora Melo Fernandes, ex-esposa de Fabrício Queiroz, segundo o que ele mesmo disse ao Intercept. Apesar disso, o registro geral do imóvel, que consultamos em 28 de março no 9º Ofício de Registro de Imóveis do Rio, ainda traz o nome de Teixeira como proprietário do apartamento.

À época em que foi assinada a procuração, em dezembro de 2009, Teixeira era militar da ativa no Exército e Queiroz operava o esquema das rachadinhas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, segundo a denúncia apresentada em outubro de 2020 pelo Ministério Público estadual.

Os promotores acusam a organização criminosa comandada por Flávio de desviar e lavar dinheiro público em compras de imóveis em nome do político. Ele e Queiroz negam.