18 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Corrupção

Corrupção: PF ouve hoje Ramagem e Tostes sobre rachadinha e Abin Paralela

Governo Bolsonaro usou a estrutura do poder para anular investigações contra Flávio Bolsonaro

A Polícia Federal vai tomar depoimentos nesta quarta-feira, 17, do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e o do ex-secretário da Receita Federal José Tostes no escândalo da Abin Paralela.

O caso apura o uso da estrutura da Agência Brasileira de Informações para espionagem de desafetos e adversários durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ramagem e Tostes também constam no áudio da reunião em que é discutido uma estratégia para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) na investigação sobre a “rachadinha” — esquema de corrupção em que o filho de Bolsonaro ficava com parte dos salários dos funcionários do gabinete, quando ele era deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Na segunda-feira, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo da gravação da reunião ocorrida em 2020. Dela participaram, além de Ramagem, Bolsonaro, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI, ao qual a Abin é subordinada), Augusto Heleno, e as então advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach. A reunião durou 1h08 e foi gravada por Ramagem — que, em vídeo publicado nas redes sociais, disse ter recebido a autorização de Bolsonaro para registrar o encontro.

Na reunião, o então diretor da Abin propõe abrir procedimentos administrativos contra os auditores-fiscais da Receita que investigaram o Flávio Bolsonaro, exatamente para anular as apurações. Bolsonaro concorda. A estratégia foi colocada em prática e o processo contra Flávio acabou arquivado em 2022.

“O secretário da Receita é um cara muito bom”, diz Ramagem, em certo momento da reunião. “Ninguém está pedindo favor aqui (inaudível). É o caso conversar com o chefe da Receita, o Tostes”, diz Bolsonaro pouco depois.