O ano (2016) silenciou e quase não apareceu ninguém para dizer feliz ano velho. Talvez, no planalto, o inquilino pelo golpe que deu. Mas o que todos querem saber mesmo é como será o amanhã, que já é hoje. No País inteiro, prefeitos novos e antigos estão assumindo seus mandatos com a responsabilidade de colocarem em prática as promessas feitas ao longo de suas campanhas na cabala dos votos.
E não será fácil cumpri-las diante de um Brasil quebrado e mergulhado no lodo da corrupção desenfreada, mas que persiste com uma doença crônica no cenário da política brasileira. Eis, portanto, que o ambiente para o cumprimento das promessas farônicas feitas por “gregos e troianos” no ano que mal terminou não é nada favorável.
O guru do tucanato brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, disse no sul que não apenas as finanças brasileiras estão ‘quebradas’ em todos os níveis (municipal, estadual e federal), mas também a carência de serviços públicos (educação, saúde, transportes) é gritante. “Dentre eles, os de segurança”, disse.
E faz quase uma previsão catastrófica nesse campo, ao observar: “Não seria de surpreender se a força do crime organizado viesse a desafiar mais amplamente as forças da ordem”. Imagine o que será do País se a fala de FHC se constituir em fato. Vade retro.
Mas, de repente, surge para todos a ideia de que 2016 pode ser mesmo aquele ano que não terminou de fato. Para quem bateu panelas e pra quem não bateu também. Afinal, o Brasil chega em 2017 com uma herança de quase 13 milhões de desempregados e a tendência é dessa estatística se ampliar, principalmente diante das reformas que estão sendo propostas na Consolidação das Leis Trabalhistas, para atender um reclamo frenético do mercado que vive a pregar o estado mínimo para o bem da riqueza. Isso é sério.
Poderemos ter nas ruas a legiões de miseráveis querendo a qualquer custo a atenção básica de quem tem exatamente o dever de dar-lhes condições de vida com dignidade. E, em não o fazendo, os gestores acabarão facilitando a ação do crime organizado (sim) sobre essa massa de desvalidos que estará nas ruas e outras praias.
Ou seja, não será surpresa se gente pobre, desempregada, vagando pelas calçadas e becos, passar a ser tratada como bandido. E numa terra em que cresce o coro de que bandido bom é bandido morto, ter-se-á, portanto, a motivação perfeita para a chamada “limpeza” dessa parcela da exclusão que jamais será chamada de “brava gente brasileira”.
Obviamente, que todos temos de ter esperanças de que o País deixe de ser o gigante adormecido. Mas, mais do que isso: Todos têm o dever de cobrar dos prefeitos que hoje assumem para que cumpram de fato as promessas feitas. Cobrança essa dentro de princípios democráticos e legitimada pela cidadania ultrajada.
Que as energias de 2017 não nos conduza ao arrazoado de Fernando Henrique. Muito antes pelo contrário. O que todos precisamos é de um amanhã alvissareiro, brilhante e com vida pujante.
Mas, se o amanhã não for nada disso, poeta, não caberá a mim esquecer.