20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Empresário afirma ter sido coagido por Moro para mentir e atuar como infiltrado

Até imagens de ‘Festa da cueca’ foram exigidas pelo então juiz e procuradores da Lava Jato

O empresário Tony Garcia afirmou neste final de semana que foi usado pelo ex-juiz, atual senador, Sergio Moro, como agente infiltrado para perseguir desafetos do principal personagem da finada “lava jato”. Os procuradores Carlos Fernando de Souza e Januário Paludo também participaram do esquema.

Em entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, da TV 247, Garcia disse que um dos alvos da perseguição teria sido o advogado Roberto Bertholdo, que acabou preso com base em falso testemunho prestado por Garcia.

De acordo com o empresário, ele foi obrigado por Moro a incriminar Bertholdo, advogado que vinha conseguindo anular sentenças proferidas à época pelo então juiz.

“Ele achava que eu era um braço político do Bertholdo nos tribunais superiores. E que o Bertholdo usava isso para vender sentenças, comprava desembargadores. Era isso o que ele perseguia, os desembargadores que, segundo ele, o Bertholdo comprava no TRF-4. Ele queria saber se eu sabia disso. Eu falei que não”.

Ainda de acordo com Garcia, Moro dizia o que ele tinha de falar em delações. “Eles me jogaram no porão da Polícia Federal. Ele fazia de Curitiba a Guantánamo brasileira. Ele fazia os mesmos métodos de tortura psicológica para tirar de você, preso, o que ele queria.”

Garcia contou também que, em 2006, Moro e procuradores da “lava jato” o instruíram a conceder entrevista a um repórter da revista Veja em uma tentativa de incriminar o ex-ministro petista José Dirceu. À publicação, Garcia “relatou” que Dirceu e Bertholdo eram responsáveis por operar um suposto mensalão. “Eu fui instado a procurar coisas contra o PT”, disse Garcia.

‘Festa da cueca’

O empresário também disse que desembargadores do TRF-4 eram chantageados por personagens da “lava jato” com a informação de que teriam participado de orgias com prostitutas na suíte presidencial de um hotel em Curitiba, por volta de 2003, em episódio chamado por Garcia de “festa da cueca”.

“Teve desembargador com medo de aparecer a gravação. Não vou falar quem é, mas teve desembargador que contou para a mulher e acabou arranjando separação”, acrescentou Garcia, que disse ter sido procurado por Moro para que conseguisse um vídeo com imagens da festa.

O empresário também citou o ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça Felix Fischer, que teria sido pressionado pela “lava jato” devido a supostos pagamentos feitos por Bertholdo a um filho do magistrado.

Moro

Procurada pela publicação, a defesa de Moro negou as acusações.

“Tony Garcia é um criminoso que foi condenado, com trânsito em julgado, por fraude e apropriação indébita. A pedido do Ministério Público e com supervisão da Polícia Federal, resolveu colaborar com a Justiça em investigação de esquemas de tráfico de influência e corrupção, ocasião na qual foi autorizado a gravar seus cúmplices. Este tipo de diligência é autorizada pela lei. Nunca houve qualquer escuta clandestina de conhecimento do senador, à época juiz, Sergio Moro.”