20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Irritação de Militares deixa Agência Brasileira de Inteligência preocupada

Militares teriam se sentido expostos quando Temer pediu, de forma limitada, desobstrução de rodovias; Fake news espalha clamor por intervenção, mas até mesmo Bolsonaro se diz contra

Integrantes da cúpula das Forças Armadas demonstraram insatisfação com o fato de o governo Michel Temer ter editado um decreto para envolver militares na desobstrução de rodovias e, depois, ter atuado para coibir ações mais incisivas. Os apelos do Planalto para que não houvesse abordagens diretas a caminhoneiros apenas confirmaram que o alcance e o anúncio da convocação foram impróprios e serviram apenas para expor as tropas.

Também criticaram o Planalto integrantes do Congresso e do Judiciário, que precisou ajustar o tom e manter diálogo. O apoio da população aos grevistas, identificado ainda no início da semana em pesquisa interna do Planalto, ampliou o temor de que cenas de confronto estimulassem grandes manifestações de rua.

Diante disso tudo, a Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, investiga a participação de integrantes das Forças Armadas e das Polícias Militares na greve dos caminhoneiros, que aproveitariam o momento de extrema fragilidade do governo Temer para provocar uma intervenção militar no país.

A Revista piauí ouviu de três agentes da Abin que a presença de militares entre os grevistas começou nesta semana, quando cresceu a violência contra os caminhoneiros e surgiram atos típicos de sabotagem, como a retirada de parafusos dos trilhos da linha férrea em Bauru, no interior paulista, que levou ao descarrilamento de um trem carregado com combustível, no dia anterior. Há indícios de envolvimento de milicianos no movimento.

Até mesmo o pré-candidato à Presidência da República do PSL, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro, negou nesta quinta-feira (31) defender uma intervenção militar. Pelo menos é o que ele diz; “Eu nunca defendi intervenção militar nenhuma, nunca disse isso. Se um dia se um militar chegar ao poder, será através do voto. É essa minha posição”, afirmou à imprensa na Marcha para Jesus em São Paulo. A afirmação foi em resposta a um jornalista que perguntou o que ele achava das pessoas que pediam intervenção militar em meio à greve.

Fake news

O WhatsApp foi um terreno perfeito para fake news a favor de uma intervenção. O general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, teve sua voz imitada em áudio que pedia “a todos os brasileiros que saiam às ruas nesta quarta-feira pedindo a intervenção militar. Nós iremos destituir o presidente, junto com o Congresso Nacional e o Judiciário. Devido à corrupção que se instaurou nesse país, faremos um governo interino”. Entretanto, na página original dele no Twitter, o general recebe críticas e é chamado de covarde. “Deixou o povo brasileiro na mão, quando a gente precisou de você.” Muitos querem protestar para que não se possa mais protestar.