3 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Laranjas: Secretário Geral está “triste e decepcionado” com Bolsonaro

Envolvimento de Bebianno com o escândalo das candidaturas laranjas do PSL fez com que os filhos intensificassem a artilharia contra o ministro

Em desabafo com amigos mais próximos, depois assistir Jair Bolsonaro afirmar à TV Record que ele pode “voltar às origens”, o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, disse que está triste e sem palavras para definir o tamanho da decepção que sente com o presidente.

Veja trecho da entrevista:

Bebiano foi um dos primeiros a se engajar na campanha eleitoral do agora presidente. Mas seus filhos, em especial com o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), nunca esconderam seu desapreço pelo ministro. E o envolvimento de Bebianno com o escândalo das candidaturas laranjas do PSL fez com que os filhos intensificassem a artilharia contra o ministro.

Como se a roupa suja lavada em público não fosse suficiente, Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro e age como funcionário federal, vazou um áudio do próprio pai, o presidente, sobre o assunto:


Laranjas

Neste domingo, uma reportagem da Folha revelou que a candidata laranja Maria de Lourdes Paixão, 68, indicada pelo grupo do presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, declarou ter gastado R$ 380 mil de dinheiro público na gráfica Itapissu, no Recife, a quatro dias da eleição, em outubro do ano passado. A gráfica é fantasma e não possui maquinários.

Ela teve somente 274 votos, e não há nenhum sinal de que tenha realizado de fato campanha. Quando questionada sobre a gráfica e os valores de campanha, Maria de Lourdes esquivou: “eu não lembro de tudo (…) Entreguei tudo ao contador”.

Maria de Lourdes Paixão virou de última hora candidata a deputada federal para preencher vagas de cota feminina e foi a terceira que mais recebeu dinheiro público do PSL em todo país, mais que o próprio presidente Jair Bolsonaro.

Repercussões

Depois das denúncias, iniciou-se o conflito entre Luciano Bivar e Gustavo Bebianno, respectivamente presidente licenciado e presidente em exercício do PSL à época da eleição. Bivar atribuiu a Bebianno a decisão sobre o repasse de dinheiro público à candidata laranja de Pernambuco, mas o ministro negou ter sido o mandante da transferência.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) chegou a afirmar que a investigação da Polícia Federal sobre suspeita de “candidatura laranja” no PSL é um “problema do partido” e não atinge diretamente o governo Bolsonaro. Mas o ministro levou a crise até o governo, ao afirmar ter falado três vezes com o presidente somente naquele dia.

O que foi desmentido por Carlos e intensificou a crise. A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou que o filho do presidente Jair Bolsonaro, está tentando gerar uma crise com suas mensagens:

“É uma coisa de louco, é inimaginável uma coisa dessa. Tem que ter separação. Casa do presidente é uma coisa, palácio é outra coisa. O Palácio do Planalto não pode invadir a casa do presidente. Não pode ter puxadinho”. Joice Hasselmann, deputada federal do partido do presidente.

E Carlos, mesmo assim, não se cala.

Sem demissão

Em entrevista à Record, o presidente indicou que, caso Bebianno, seja responsabilizado no caso das candidaturas laranjas do PSL, será demitido. A entrevista foi poucos minutos antes de o presidente receber alta médica.” Se estiver envolvido e, logicamente, responsabilizado, lamentavelmente, o destino não pode ser outro a não ser voltar as suas origens”.

Logo após a declaração de Bolsonaro para a Record TV, o ministro afirmou que não pedirá demissão, porque considera não ter feito nada de errado, e disse não entender o comportamento de Carlos Bolsonaro.

“Eu não entendo. Enquanto ministro de estado, eu vou manter a minha postura, a liturgia inerente à função, e não comento esse tipo de coisa”. Gustavo Bebianno, ainda Ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

Nesta manhã (14), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou que “está sendo cumprida” a determinação do presidente Jair Bolsonaro, que um dia antes disse que a Polícia Federal deve investigar o esquema de candidaturas laranjas no PSL.