19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Mundo

Lula assume hoje presidência do Mercosul e Uruguai ameaça sair do bloco

Chanceler uruguaio exige mudanças no tratado fundador do bloco econômico dos países da América do Sul

Lula toma posse hoje na presidência do Mercosul

Nesta terça-feira, 04, o  presidente Luiz Inácio Lula da Silva assume em Puerto Iguazú, na Argentina, a presidência rotativa do Mercosul.

De início, o presidente terá como missão imediata dissuadir o Uruguai que ameaça deixar o grupo para assinar um acordo de livre comércio diretamente com a China, ignorando as regras estabelecidas pelo Mercolsu. O País vizinho é uma espécie de voz dissidente do bloco.

O chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, disse, ontem, durante o encontro preparatório para a cúpula, que “sem dúvida” seu país terá que considerar que tipo de “pertencimento” o Uruguai terá. “Ou modificamos o tratado fundador ou, eventualmente, cogitamos a possibilidade de sairmos do Mercosul como Estado fundador para tornarmo-nos Estado associado”, ameaçou.

Para Bustillo, o bloco sofre com o aquilo que classifica como “imobilismo” do grupo para novos acordos comerciais, com outras regiões. Conforme disse, seria melhor chamar o Mercosul de “Zocosul”. “No estado em que está o Mercosul, seria melhor criar uma Zona de Livre Comércio do Sul, uma Zocosul, e não um Mercosul”, criticou. Por trás da insatisfação, está o interesse uruguaio em estabelecer uma linha direta com a China, “que está esperando”.

O chanceler Mauro Vieira não comentou o ultimato uruguaio, mas endossou a necessidade de ampliação dos acordos comerciais com outros países da região. Citando nominalmente Chile, Colômbia, Peru e Equador — que têm status de associados do Mercosul —, o ministro sinalizou que a presidência rotativa brasileira quer avançar nas discussões com parceiros da América Central e do Caribe.

“Devemos aproveitar a oportunidade para ampliar e aprofundar esse acervo de acordos comerciais com a região, sob pena de ficarmos para trás diante de outras regiões e países extrazona”, admitiu Vieira, buscando amenizar a irritação uruguaia.

O tema mais importante para o Itamaraty no encontro, o acordo Mercosul-União Europeia (UE), tem tudo para continuar apenas no discurso, pois o Brasil não deve apresentar uma contraproposta às cobranças e adaptações feitas pelos europeus. O chanceler argentino, Santiago Cafiero, ressaltou a importância do acordo, mas endossou o pleito brasileiro de revisar o texto de 2019.

“O acordo, como foi fechado, reflete um esforço desigual entre blocos assimétricos e não responde ao cenário internacional”, lamentou.