Nesta terça-feira, 04, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assume em Puerto Iguazú, na Argentina, a presidência rotativa do Mercosul.
De início, o presidente terá como missão imediata dissuadir o Uruguai que ameaça deixar o grupo para assinar um acordo de livre comércio diretamente com a China, ignorando as regras estabelecidas pelo Mercolsu. O País vizinho é uma espécie de voz dissidente do bloco.
O chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, disse, ontem, durante o encontro preparatório para a cúpula, que “sem dúvida” seu país terá que considerar que tipo de “pertencimento” o Uruguai terá. “Ou modificamos o tratado fundador ou, eventualmente, cogitamos a possibilidade de sairmos do Mercosul como Estado fundador para tornarmo-nos Estado associado”, ameaçou.
Para Bustillo, o bloco sofre com o aquilo que classifica como “imobilismo” do grupo para novos acordos comerciais, com outras regiões. Conforme disse, seria melhor chamar o Mercosul de “Zocosul”. “No estado em que está o Mercosul, seria melhor criar uma Zona de Livre Comércio do Sul, uma Zocosul, e não um Mercosul”, criticou. Por trás da insatisfação, está o interesse uruguaio em estabelecer uma linha direta com a China, “que está esperando”.
O chanceler Mauro Vieira não comentou o ultimato uruguaio, mas endossou a necessidade de ampliação dos acordos comerciais com outros países da região. Citando nominalmente Chile, Colômbia, Peru e Equador — que têm status de associados do Mercosul —, o ministro sinalizou que a presidência rotativa brasileira quer avançar nas discussões com parceiros da América Central e do Caribe.
“Devemos aproveitar a oportunidade para ampliar e aprofundar esse acervo de acordos comerciais com a região, sob pena de ficarmos para trás diante de outras regiões e países extrazona”, admitiu Vieira, buscando amenizar a irritação uruguaia.
O tema mais importante para o Itamaraty no encontro, o acordo Mercosul-União Europeia (UE), tem tudo para continuar apenas no discurso, pois o Brasil não deve apresentar uma contraproposta às cobranças e adaptações feitas pelos europeus. O chanceler argentino, Santiago Cafiero, ressaltou a importância do acordo, mas endossou o pleito brasileiro de revisar o texto de 2019.
“O acordo, como foi fechado, reflete um esforço desigual entre blocos assimétricos e não responde ao cenário internacional”, lamentou.