19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Militares dizem que Hacker foi à Defesa a pedido de Bolsonaro, mas foi considerado “leigo”

Delgatti conversou com um técnico da equipe de fiscalização das Forças Armadas e foi dispensado

Depoimento do Hacker, Walter Delgatti Neto, na CPMI do golpe. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

A presença do hacker Walter Delgatti no Ministério da Defesa, para tratar sobre a segurança das urnas eletrônicas, foi confirmado por Militares que integraram a equipe de fiscalização do processo eleitoral em 2022.

Ao menos integrantes das Forças Armadas que participaram do processo informaram que o hacker da Vaza Jato esteve, no entanto, uma única vez na sede ministerial. Eles não só negam influência dele na confecção do relatório final da fiscalização, como o consideraram um leigo.

Segundo a Folha, que conversou com os militares, a versão dos militares contraria a apresentada por Delgatti à CPI do 8 de janeiro, na última quinta-feira (17).

Ele disse ter participado de cinco reuniões no Ministério da Defesa sob o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), recentemente condenado pelo TSE por mentiras e ataques ao sistema eleitoral, ficando assim inelegível pelos próximos oito anos.

Delgatti foi ao prédio da pasta em 10 de agosto, uma quarta-feira. Estava acompanhado do assessor especial da Presidência Marcelo Câmara, que é coronel da reserva. Sua ida à pasta foi intermediada pelo então presidente Bolsonaro.

Segundo os relatos, o prédio da Defesa estava esvaziado quando ocorreu a visita do hacker. Nove dos dez técnicos de informática da equipe das Forças Armadas estavam na sede do TSE para a análise do chamado código-fonte das urnas. Já o ministro da Defesa à época, Paulo Sérgio Nogueira, havia viajado a Belém (PA) após ter participado da Operação Formosa, no entorno de Brasília, pela manhã.

Na versão que circula entre os militares, o técnico da Força percebeu na conversa que Delgatti não conhecia o sistema eleitoral com profundidade e, por isso, não teria nada a acrescentar ao trabalho.

Os militares que participaram do processo de fiscalização ainda contestam a afirmação de Delgatti sobre a suposta influência do hacker na produção do relatório final dos trabalhos.

A Defesa fez os primeiros questionamentos ao TSE em dezembro de 2021 e apresentou propostas de melhoria do processo eleitoral em março do ano seguinte.

A tese principal dos militares no relatório, a de que um código malicioso poderia inverter votos, foi apresentada publicamente em 14 de julho de 2022 —antes, portanto, da conversa com Delgatti.