20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Moro critica juiz da Lava Jato por “colher dados pessoais e fazer ameaças”

Já Deltan disse ser “absolutamente inacreditável” um juiz federal ser “militante” e pede sua demissão

A 13ª Vara de Curitiba pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) afastou, na noite de ontem (22) o juiz Eduardo Appio, que está à frente da Operação Lava Jato desde fevereiro. Uma denúncia junto à Corregedoria Regional diz que o juiz realizou uma suposta ameaça ao desembargador federal Marcelo Malucelli.

Leia mais: Juiz que comanda Lava Jato é afastado pelo TRF-4

Appio teria consultado o número de telefone de João Eduardo Barreto Malucelli, filho do desembargador, por duas vezes no dia 13 de abril deste ano, se passando por um servidor da área de saúde da Justiça Federal. Na ligação, ele teria buscado informações confidenciais para complicar Marcelo Malucelli, sócio do escritório de advocacia de Sergio Moro, que já esteve à frente da Operação Lava Jato.

Moro e Deltan

Após a decisão do TRF-4, o próprio senador Sergio Moro, ex-ministro da Justiça no Governo Bolsonaro, escreveu que este acontecimento seria “inédito”:

Moro, considerado suspeito em suas ações na Lava Jato por ter sido flagrado em ligações telefônicas combinando com a promotoria a melhor maneira de conseguir a condenação dos suspeitos, foi respondido pelo deputado André Janones, que resumiu a passagem de Moro no magistério:

“Nunca tinha ouvido falar, na história judiciária brasileira, de um caso no qual o juiz de um processo teria se unido a um promotor corrupto, que revisava suas sentenças, fingindo ser uma pessoa honesta para colher dados pessoais, vazar conversas ilegalmente, até prender o acusado ao arrepio da lei, e depois ainda virar ministro do outro candidato, deixar o governo acusando o mesmo de interferência na PF e depois voltar novamente com o rabo entre as pernas atrás de um cargo de senador pra livra-lo da cadeia. Realmente”…  André Janones.

Claro, o ainda senador recebeu o apoio do ex-promotor (e agora ex-deputado federal) Deltan Dallagnol, que coordenou a força tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, também condenou o novo juiz da Lava Jato. O chamou de “juiz militante”:

Vale constar que em diversas mensagens, quando estava à frente da força tarefa, Deltan e os procuradores da República afirmam que iriam se reunir com Sergio Moro, que o consultariam ou precisavam ouvir a opinião do juiz sobre suas ações.

Também há conversas em que o então juiz federal fez pedidos e orientações ao procurador da República Deltan Dallagnol. O magistrado também informa ao então coordenador da Lava Jato no Paraná, antecipadamente, medidas judiciais adotadas contra investigados.

A troca de mensagens foi obtida por hackers que invadiram celulares de autoridades brasileiras, como de Moro e procuradores. Uma série com as conversas da Vaza Jato estão em matérias especiais do The Intercept.