4 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

O preço de uma reforma: Bolsonaro compra votos para Previdência por R$ 5,6 bi

Oposição acusou o governo de tentar comprar votos e de praticar crime de responsabilidade

A mamata continua. Se bolsonaristas acusavam os petistas de liberar R$ 1,13 bilhão em emendas para aprovar a reforma da previdência, a carapuça não serve mais, já que o presidente Jair Bolsonaro abertamente liberou mais de R$ 5,6 bilhões em emendas pelos votos. Como se não fosse suficiente, os deputados ainda querem mais.

O governo precisa do apoio de no mínimo 60% dos deputados (308 dos 513 votos).

Presente no plenário da Câmara nesta terça-feira (9), durante o início da discussão da nova Previdência, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou ao site Jota que a liberação de emendas orçamentárias de sua pasta para os parlamentares foi um esforço para a aprovação da reforma.

A declaração difere da do presidente da República, que em entrevista e nas redes sociais disse que a medida é uma ação normal da administração pública, sem relacioná-la com a Previdência. Mas, claro, tem total relação. E não é nada normal.

Versão oficial é que emendas são para pasta da saúde, de Luiz Henrique Mandetta, aqui com Bolsonaro e Onyx

Não só isso, como liberação de verbas federais em troca de votos no Congresso, uma das características do chamado toma lá dá cá, é uma prática que Bolsonaro, durante a campanha, afirmou que iria acabar.

O governo ofereceu a cada parlamentar fiel um lote extra de R$ 20 milhões de emendas, em um total de mais de R$ 3 bilhões. E acelerou o empenho das emendas ordinárias, liberando quase R$ 1 bilhão na véspera da votação, tudo relacionado à pasta da Saúde.

Parlamentares do PT foram à tribuna reclamar do ministro, afirmando que ele cometeu crime ao contrariar dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias que veda o uso de verba pública para influenciar votações.

A oposição acusou o governo de tentar comprar votos e de praticar crime de responsabilidade ao liberar dinheiro para emendas em valores bem superiores ao autorizado pelo Congresso

“O governo está comprando votos com cheque sem fundo. Esse governo usa fake [news] até para comprar votos dos seus aliados”. Paulo Pimenta, líder do PT (RS).

Votos

Apesar de oficialmente não ser uma toma lá dá cá, o governo vai cortar verbas para emendas extras de deputados que prometeram votar favoravelmente à reforma da Previdência, mas que traírem o acordo. O monitoramento dos votos é coordenado pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Joice afirmou em duas oportunidades que já estaria acompanhando a quebra de palavra a partir das votações de requerimentos de obstrução (manobras para atrasar a sessão). Na primeira oportunidade, ela fez o comentário com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) dentro do plenário da Câmara.

Cada deputado tem direito a R$ 15,4 milhões de emendas individuais, que são impositivas (o governo é obrigado a liberar a verba até o fim do ano). O governo teria prometido um extra de R$ 20 milhões para cada parlamentar que votar favoravelmente ao texto. Se o deputado romper o acordo de votação, além de cortar os extras de R$ 20 milhões, o governo colocaria no fim da fila as emendas normais