21 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Cotidiano

Promotora sobre empoderamento: “Queremos ser reconhecidas como sujeitos capazes”

A promotora de justiça Maria José Alves também ressaltou que uma das formas de libertação do sexo feminino é não aceitar relacionamentos abusivos

O programa social Ministério Público Comunitário – que pertence ao Ministério Público Estadual de Alagoas, foi parte do conteúdo da palestra “O tempo é agora: ativistas urbanas e rurais transformam a vida das mulheres”, ministrada pela promotora de justiça Maria José Alves, que atua na 38ª Promotoria de Justiça da Capital.

O evento, alusivo ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no próximo dia 8, aconteceu na Campus de Arapiraca da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e foi promovido pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Políticas para Mulheres daquele município.

“No mundo, 25% da população feminina é formada por mulheres que moram e trabalham no campo, e pouca atenção se dá a isso. O que queremos é que as pessoas percebam que a mulher deve ser a protagonista da sua própria história. Por isso, trago hoje os exemplos de mulheres que, apesar de todas as adversidades, mudaram. E ao alterarem essa história pessoal, elas transformaram também seu entorno, contribuindo para modificar as vidas de tantas outras mulheres. Então, o que estamos fazendo aqui é um chamamento! Enquanto mulheres, queremos ser reconhecidas como sujeitos capazes”, declarou Maria José Alves, na abertura da palestra.

A promotora de justiça também ressaltou que uma das formas de libertação do sexo feminino é não aceitar relacionamentos abusivos, que submetem a vítima as mais diversas formas de violência: psicológica, física, sexual e patrimonial. “Quando se fala em Maria da Penha, muitas pessoas só pensam na questão do crime em si. No entanto, a lei trata de muitas outras coisas, como os direitos cíveis violados e a exigência de políticas públicas. Então, quando a gente trabalha o empoderamento na mulher, mostramos a possibilidade de transformação na vida delas. Apontamos uma chance de vida sem violência, com a recuperação da auto-estima, fazendo-as se sentirem capazes de reagir. Depois desse processo, elas mesmas percebem que aquela primeira agressão sequer deveria ter acontecido”, explicou.

As mulheres inspiradoras

Aqualtune e Dandara foram as primeiras mulheres a ter suas histórias compartilhadas com o público. “Aqualtune era uma princesa do Congo que foi tragicamente escravizada no Brasil. Já Dandara foi a esposa do líder negro Zumbi. Capoeirista, sempre estava na linha de frente das batalhas”, destacou a promotora.

Maria José Alves falou também sobre uma alagoana ilustre e que revolucionou a psiquiatria no mundo: Nise da Silveira. “Foi a primeira mulher a fazer Medicina no Brasil e transformou todo o entendimento sobre o tratamento mental no país. Combateu os choques elétricos e trouxe a arteterapia como alternativa para recuperação dos pacientes psiquiátricos que, por muito tempo, viviam numa segregação perversa”, contou.

“É claro que também não posso deixar de falar da Maria da Penha, bioquímica cearense que dá nome a uma das leis mais famosas do país. Em 1983, ela foi vítima de um tiro nas costas, enquanto dormia, dado pelo seu então marido. Marco Antonio Heredia foi condenado, mas recorreu da sentença em liberdade. Foi a militância de Maria da Penha contra a violência doméstica e familiar contra a mulher que resultou na condenação internacional do Brasil pela tolerância e omissão nos casos desse tipo de agressão.”, enfatizou.