8 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Que o eleitor lembre-se do recado: “Deputado bandido bom é deputado bandido solto”

Não adianta concentrar focar apenas no Executivo se votos vão para um Legislativo mentiroso e que faz nação dar passos para trás

Acusado de ser o mandante da ação que resultou na execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes em 2018, o ainda deputado Chiquinho Brazão (União-RJ) afinal seguirá preso. Foi o que decidiu a Câmara Federal na noite desta quarta (10).

Mas foi por pouco: enquanto ele recebeu 277 dos 257 votos necessários para manutenção do encarceramento, quase 130 parlamentares votaram pela sua soltura. E dos que estavam lá, 28 lavaram as mãos e não quiseram opinar.

Chiquinho Brazão quase foi solto. E o eleitor médio precisa se lembrar do recado claro passado por quase 160 parlamentares, fora os faltosos naquela sessão: “deputado bandido bom é deputado bandido solto”. Diabos, até os que votaram contra a saidinha dos presos votaram pelo saidaço de um colega.

Apesar de tudo já passado na história recente, as eleições concentram uma atenção absurda na votação do Executivo (prefeitos, governadores e principalmente presidente), enquanto que a votação em vereadores, deputados e senadores não recebem o foco devido. Fosse o contrário, não teríamos um Congresso tão retrógrado, dito religioso e conservador, mas que atentou de forma em flagrante ontem para soltar Brazão.

Bolsonaristas queriam liberdade

Quando Chiquinho Brazão foi preso, políticos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro prontamente partiram para a desinformação, afirmando que Brazão é um petista. Focando na foto dele ao lado de Dilma nas eleições de 2014, ignoraram por completo ele em um trio elétrico, ao lado de Flávio Bolsonaro, pedindo votos para Jair na eleição passada.

Flávio Bolsonaro na carreta de Chiquinho Brasil, em 2022

Leia mais: Deputado bolsonarista é preso e Flávio debocha por família “não ter relação” no caso Marielle

O ponto central nessa história, mais uma vez, é de parlamentares da direita sustentando a falácia de acusar a esquerda por todos os problemas e mazelas. Criando um cisma, uma briga idiota de cristãos conservadores contra comunistas comedores de criancinhas que só existe na cabeça miúda de quem eles querem enganar.

Pra constar: para soltar o deputado bom deles, o argumento era o de que não seria possível prender um deputado federal sem que houvesse um flagrante. Justo, afinal, o que impediria no futuro um parlamentar preso por qualquer coisa nos próximos anos?

Mas Chiquinho não é acusado de qualquer besteira: quando vereador pelo Rio, ele teria sido o mandante da execução de Marielle. Isso é hediondo. E é inaceitável que uma pessoa como essa siga parlamentar, recebendo salário e auxílios. Intimidando vítimas e manipulando a justiça para se manter solto.

Além do mais, o entendimento do STF (que eles tantos odeiam) é o de que crimes hediondos são contínuos, o flagrante persiste. E tudo começou por causa de um petista, diga-se de passagem:

Em 2015 no STF, esse argumento foi usado durante julgamento envolvendo a acusação de obstrução de Justiça contra o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS) em investigações de corrupção na Petrobras. O então ministro Teori Zawascki, relator do caso, defendeu que podem ser tomados como flagrante atos dolosos, ou seja, intencionais, cujos efeitos se arrastam no tempo. Assim como com Daniel Silveira.

O que mudou aqui foi que muitos estão com medo de terem o mesmo destino de Chiquinho Brazão. Não de uma prisão injusta, inconstitucional, assinada pelo malvado careca Xandão. É por puro corporativismo. Não todos, óbvio, mas muitos ali votaram por medo, pensando em si mesmos para não serem presos pelos crimes que cometem, cometeram ou cometerão. E mortos de medo de serem denunciados pelos encarcerados.

Chiquinho Brasão com certeza sabe de muitos podres. Não é a toa que o próprio deputado Eduardo Bolsonaro foi o maior cabo eleitoral para que Chiquinho fosse solto. O argumento era a Constituição, a intriga contra Alexandre de Moraes. Na verdade, eles devem é estar com medo do que Brasão vai assoviar. E que podem ser os próximos.

Lembrem-se

O eleitor brasileiro é fácil de ser enganado e tem memória curta. É só gritar que não é corrupto, que tem nojo da esquerda e que é conservador temente a Deus que, de repente, a pessoa se torna um santo e sério candidato ao voto.

Mas, pouco a pouco, ainda vale tentar lembrar aqueles ainda desenganados e iludidos: parem um pouco para pensar e observem essas contradições. Estes, que votaram pela soltura do acusado de mandar matar Marielle, o fizeram pela Constituição ou por medo de serem denunciados?

Todos esses votaram pela soltura…