19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

R$ 17,2 milhões via Pix: Vaquinha de Bolsonaro conta com apoio do gado, mas Coaf tem suspeitas

Há a possibilidade de que boa parte desse montante não tenha vindo de doações, mas de um esquema de lavagem de dinheiro.

Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) informou que a conta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebey R$ 17,2 milhões via transação por Pix nos seis primeiros meses do ano.

Somente entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho o ex-presidente da República recebeu mais de 769 mil transações via Pix que totalizaram R$ 17.196.005,80.

O órgão aponta movimentações atípicas, mas estas podem estar atreladas à vaquinha feita para pagar multas com a Justiça, já que houve uma campanha de doações organizada em junho para o pagamento de multas.

A chave Pix do ex-presidente foi divulgada por parlamentares e ex-integrantes do governo, como os ex-ministros Gilson Machado e Fabio Wajngarten, e o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG).

“No período chamou a atenção o montante de PIXs recebidos em situação atípica e incompatível. Esses lançamentos provavelmente possuem relação com a notícia divulgada na mídia”. Trecho do relatório.

A Justiça de São Paulo é uma que já determinou o bloqueio de valores de Bolsonaro por ele não ter usado máscara durante a pandemia de coronavírus.

Bolsonaro

O próprio Bolsonaro afirmou que já tinha recebido o suficiente para pagar todas as multas que recebeu em processos judiciais e eventuais novas punições.

“Foi algo espontâneo por parte da população. O Pix nasceu no nosso governo. Já foi arrecadado o suficiente para pagar as atuais multas e a expectativa de outras multas. O valor a gente vai mostrar brevemente. Agradeço a contribuição, mesmo sem ser a pedido. A massa contribuiu entre R$ 2 e R$ 22”.

Na eleição do ano passado, o ex-presidente declarou patrimônio total de R$ 2,3 milhões. Hoje, ele recebeu um salário de R$ 41 mil no PL, mais R$ 11.945 como militar reformado e R$ 35.223 de aposentadoria parlamentar. Ele foi deputado por quase 30 anos.

Doações

O relatório do Coaf traz o montante transferido via Pix e uma lista de diferentes depósitos realizados pela ferramenta ou por transferência convencional. O detalhamento só informa depósitos a partir de R$ 5.000 e não é possível saber se eles foram feitos via Pix ou transferência.

Além do PL, que transferiu R$ 47,8 mil a Bolsonaro em dois lançamentos, outros 18 nomes pagaram de R$ 5.000 a R$ 20 mil ao ex-presidente, segundo o Coaf. A relação inclui empresários, advogados, pecuarista, militar, agricultor, estudante e duas pessoas identificadas como “do lar”.

Há ainda três empresas. Só uma delas depositou R$ 9.647 na conta do ex-presidente em 62 lançamentos. O relatório não especifica se os depósitos foram feitos dentro da campanha movida por apoiadores de Bolsonaro.

O Coaf é a Unidade de Inteligência Financeira (UIF) brasileira que participa ativamente das atividades e reuniões dos principais organismos multilaterais relacionados à prevenção e combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo (PLD/FT).

Por isso, há a possibilidade de que boa parte desse montante não tenha vindo de doações, já que existe a possiblidade que a campanha de doações possa ter servido de fachada para um esquema de lavagem de dinheiro.

Mauro Cid, o por exemplo: o Coaf apontou movimentações financeiras “atípicas” e “incompatíveis com o patrimônio” nas contas bancárias do tenente-coronel que foi ajudante de ordens do ex-presidente.

O relatório afirma que o militar movimentou em suas contas bancárias R$ 3,2 milhões de 26 de julho de 2022 a 25 de janeiro de 2023. No resumo das transações financeiras, estão R$ 1,8 milhão em créditos e R$ 1,4 milhão em débitos.