17 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Esportes

Valdileia: Atleta do MST disputa a final olímpica do salto em altura neste domingo

A atleta perdeu o pai dia 30, se lesionou ao conquistar a vaga para a final e não revelou sua origem com medo de discriminação da elite brasileira

 

 

Classificada na sexta-feira, 2, para a final do salto em altura, nas Olimpíadas de Paris, Valdileia Martins, começou a praticar salto de forma improvisada em um acampamento Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Paraná, onde morava com a família.

A final da atleta do MST será realizada neste domingo, 4.

Valdileia Martins igualou o recorde brasileiro no salto em altura de 1,92m nos jogos de Paris e alcançou a marca de Orlane Maria Dos Santos, que foi conquista em 11 de agosto de 1989. A atleta, no entanto, sofreu uma lesão no tornozelo esquerdo enquanto tentava saltar 1,95m, mas disputará a final neste domingo.

A origem da atleta e o medo da discriminação

A história da origem da atleta foi contada pelo jornalista Demétrio Vecchioli, em postagem no X (antigo Tweeter). Segundo o comunicador, Valdileia sempre guardou em segredo as raízes como integrante de uma família assentada pelo MST. “Ela escondeu isso, não por vergonha, mas por medo de ser discriminada”.

Nem o atual treinador da saltadora, com quem trabalha há seis anos, nem o anterior, que a treinou por nove anos, sabiam desse detalhe da vida dela.

Valdileia cresceu em um assentamento rural e lá começou a praticar salto em altura de forma improvisada, usando uma vara de pescar como sarrafo e sacos de milho cheios de palha de arroz como colchão, colocados pelo pai dela, Israel Martins. Infelizmente, o genitor não pôde ver a classificação da filha. Ele faleceu na segunda-feira (29/07).

Segundo o jornalista, Valdileia soube da morte do pai na terça-feira (30/7), durante um dos primeiros treinos dela em Paris. Aos 35 anos, participar de uma Olimpíada era um sonho que ela construiu junto a Israel Martins. Além de se classificar para a final olímpica, a atleta também se tornou recordista brasileira.

Inicialmente, a saltadora pensou em desistir dos Jogos. “O momento havia perdido sua alegria”, contou Vecchioli. No entanto, ela decidiu continuar em homenagem ao pai, que estava orgulhoso da ida dela à competição. Valdileia acompanhou o velório por chamada de vídeo, contendo as lágrimas, desligou o telefone foi treinar. Nem mesmo a equipe que estava com ela percebeu que havia algo triste acontecendo.

A decisão de continuar, após a morte do pai, é também uma homenagem a ele.

“Eu sou forte hoje graças ao meu pai e a minha mãe, que sempre me incentivaram a quebrar barreiras”, diz. “Acho que ele sente orgulho de mim, de tudo que eu estou fazendo”, relatou Valdileia.