14 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Vaza Jato: Empresa citada na Lava Jato pagou palestra de Deltan

Procurador recebeu R$ 33 mil de firma que já havia sido mencionada por delator

Independente da prisão dos “hackers”, mensagens e documentos obtidos pelo The Intercept Brasil e analisados em conjunto com a Folha, mostram que Deltan Dallagnol, procurador da República fez uma palestra remunerada no valor de R$ 33 mil para uma empresa que havia sido citada em um acordo de delação em caso de corrupção na própria força-tarefa da Lava Jato.

A firma do setor de tecnologia Neoway, que contratou Deltan, foi mencionada pela primeira vez em um documento de colaboração que foi incluído em um chat dos procuradores da operação em março de 2016, dois anos antes da palestra.

Além de participar do evento remunerado da companhia, em março de 2018, Deltan aproximou membros da Procuradoria e representantes da Neoway com o objetivo de viabilizar o uso de produtos dela em um trabalho da força-tarefa, da qual é coordenador em Curitiba.

O procurador também gravou um vídeo para a firma no qual enaltece a utilização de ferramentas tecnológicas em investigações, além de ter acionado um dos assessores do Ministério Público para avaliar seu desempenho na gravação.

A Vaza Jato já havia noticiado que só em 2017, Deltan se gabou ter lucrado mais de R$ 400 mil reais com sua empresa de palestras. O procurador da e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato montou um plano de negócios de eventos e palestras para lucrar com a fama e contatos obtidos durante as investigações do caso de corrupção.

Deltan diz que não sabia

Deltan afirmou que antes de dar palestra remunerada para a empresa Neoway, não teve conhecimento de que a companhia já havia sido citada na Lava Jato. E também defendeu a realização de palestras para várias empresas e negou que esse trabalho cause prejuízos à sua atividade como procurador.

O coordenador da Lava Jato salientou que já recusou convites quando verificou que eles levavam a situações de conflitos de interesses e enviou à reportagem três e-mails que demonstram situações nas quais não aceitou ofertas em razão desse problema.

“Não reconheço a autenticidade e a integridade dessas mensagens, mas o que posso afirmar, e é fato, é que eu participava de centenas de grupos de mensagens, assim como estou incluído em mais de mil processos da Lava Jato. Esse fato não me faz conhecer o teor de cada um desses processos. Se, por acaso, por hipótese, eu tivesse feito parte do grupo no qual a Neoway apareceu em documentos, certamente não tomei conhecimento. Se soubesse não teria feito, e, sabendo, me afastei.” Deltan Dallagnol, procurador da República.